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Na Cadência dos Deuses - Parte 1


Considerada a mais antiga forma de arte, a dança nasceu como um meio do homem conectar-se ao Divino.

Como falar sobre aquilo que me causa a impressão de estar diante de truques de mágica ou de segredos guardados pelos deuses?

Dessa pergunta ecoa a idéia de que o ato de dançar estaria ligado a um plano invisível, impossível de ser descrito em palavras. Mais do que mera expressão corporal, o movimento suave, preciso, seria um meio de união com o plano espiritual.

A história da humaniade confirma essa relação: desde os primórdos o homem viu na dança uma forma de conectar-se ao Sagrado. E não é à toa. Por dispensar materiais e ferramentas externas, dependendo apenas do corpo para se realizar, ela é considerada a mais antiga forma de expressão: sabe-se que o homem já dançava na era paleolítica superior (de 300 mil a 10 mil anos a.C.).

Datam desse período os primeiros registros conhecidos de atividades dançantes. Segundo estudiosos, como o historiador francês Paul Bourcier, as danças naquela época eram miméticas, ou seja, imitavam os movimentos dos animais, e eram feitas em grupos dispostos em roda.

Na realidade, não há indício de que os povos nômades que então habitavam o planeta cultuassem alguma divindade, mas a cosmologia das sociedades tradicionais que sobreviveram até hoje mostra que as danças miméticas são usadas por elas como forma de incorporar o espírito dos animais, assimilando suas qualidades antes de caçá-los.

Esse tipo de dança, hipnótica e repetitiva, sempre procurou levar o dançarino a entrar num estado de êxtase, em que pudesse comungar com a essência do elemento que desejava incorporar.



Magia em Movimento

Durante o período neolítico (8.000 a 2.000 a.C.) o ser humno já adorava espíritos e seguia rituais para enterrar seus mortos. A dança tinha então um papel fundamental nas cerimônias e cultos, sendo usada para louvar ou aplacar divindades, ou ainda para excitar o êxtase espiritual dos bailarinos.

No livro Mitos e Símbolo na Arte e Civilização da Índia, o mitólogo alemão Heinrich Zimmer afirma: "A dança é uma forma ancestral de magia. O dançarino ganha novas e maores dimensões, torna-se um ser dotado de poderes sobrenaturais e sua personalidade se transforma. A dança leva ao transe, ao êxtase, à vivência do Divino, à compreensão da secreta natureza individual e, por fim, à fusão com a essência divina".

De acordo com pinturas rupestres descobertas em escavações arqueológicas, na "infância" da dança sua execução ficava a cargo de homens ornados com máscaras e amuletos, principalmente magos e sacerdotes, e os rituais eram acompanhados de instrumentos musicais.

Não havia então uma distinção clara entre música, dança e louvação, sendo as três intimamente integradas num mesmo corpo. Ainda hoje essa fusão caracteriza as cerimônas religiosas de diversas comunidades indígenas.

Entre os índios guaranis, por exemplo, não existem cantos e danças propriamente profanos. Canto, dança e oração chegam a ser sinônimos: a oração é um canto dançado, assim como a dança é uma oração cantada.

O mesmo se dá em relação a movimentos espiritualistas contemporâneos,como os praticantes das danças sagradas, e aos cultos afro-brasilieiros, como a Umbanda, em que o movimento corporal é um veículo de ligação com as divindades.


Bailado Ancestral

A dança está presente como elementos sagrado em várias crenças e movimentos espiritualistas. Confira alguns exemplos abaixo:

Vamos todos Cirandar?

Quando se vê um grupo de danças circulares sagradas em movimento é impossível não recordar as brincadeiras de roda que povoam nossa infância. Para os praticantes, porém, mais do que deliciosos momentos de descontração, elas proporcionam um contato com a essência divina de cada um.

Foi assim como o bailarino alemão Bernhard Wosien, responsável pelo resgate de danças tradicionais européias na década de 50 que culminou com a popularização do que hoje chamamos de danças circulares sagradas. No livro Dança: Um caminho para a Totalidade, Wosien afirma: "Nas formas mais antigas das danças populares encontrei o caminho para a dança como uma meditação, um caminhar para o silêncio. Esta meditação tornou-se para mim e meus alunos uma oração sem palavras".

O elemento comun a todas as danças sagradas é o formato em círculo, considerado um poderoso símbolo de unidade e totalidade entre seus participantes. Ao trabalharmos em círculo, de mãos dadas, estimulamos o espírito comunitário, pois não existe heirarquia.

Gira Mundo Gira

As pancadas no atabaque marcam o ritmo no terreiro e, aos poucos, os presentes entram em transe mediúnico ao mover o corpo segundo o compasso da percussão.

De acordo com o pai-de-santo Vinícius d'Omulu, do Templo Caboclo Pena Branca das Almas, na Grande São Paulo, na Umbanda a dança é uma louvação às entidades. "Ela estimula os filhos da casa a consagrarem o Divino dentro do epaço sagrado". 

Além, disso, levaria os médiuns à sintonia para incorporar as entidades, como os caboclos e pretos-velhos. 

Em outros credos afro-brasileiros, como o Candomblé e o Tambor-de-Mina, crê-se que as próprias divindades se manifestariam pelas danças rituais.


Por meio das danças e o tambor, os orixás são invocados a se fazer presentes. Para a religião afro, o corpo é muito importante. Durante os rituais, emprestam-se as forças que tem desde que o mundo é mundo. 


Continua...


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Aranel Ithil Dior