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O Equilíbrio Que Vem das Agulhas - Parte 3


A Lista da Organização Mundial da Saúde tem quatro categorias com níveis de eficiência testados para a acupuntura.

Na Primeira, onde se encaixam rinite, depressão e úlcera, ela é comprovadamente eficaz.

Na Segunda, os efeitos aparecem, mas os estudos não são conclusivos. Alcoolismo, obesidade, esquizofrenia e infertilidade feminina estão nesse grupo. 

Na Terceira, os testes não são satisfatórios, mas, diante da ineficácia dos outros tratamentos, vale a penas tentar a acupuntura. Surdez e síndrome do intestino irritável estão listadas aqui.

Na Quarta, a acupuntura pode ser testada desde que o médico tenha condições de socorrer o paciente em caso de emergência. Doenças coronárias e convulsões infantis se encaixam aqui.

Para dar conta de doenças tão diversificadas, existem técnicas variantes da acupuntura tradicional. Conheça algumas delas:

Acupuntura Auricular ou Auriculoterapia

A orelha, para os acupunturistas, tem uma representação completa do corpo humano. 

 (Os pontos da orelha)

Agulhas - pequenos ímãs ou sementes de mostarda também funcionam - em pontos específicos prolongam os efeitos do tratamento por semanas. 

Fumantes e dependentes de álcool e drogas podem se beneficiar dessa técnica.

Eletrocupuntura

Em cada uma das agulhas - ou diretamente na pele - são ligados eletrodos que transmitem uma corrente elétrica de baixa intensidade. 

(A eletroacupuntura pode ajudar no emagrecimento)

Recomendável no combate à dor, é contra-indicada para quem usa marcapasso.

Acupuntura Escalpeana

As aplicações são feitos em pontos localizados no couro cabeludo.

(Esta modalidade da acupuntura é muito utilizada para pacientes que sofrem de fortes dores de cabeça)

Indicada para dores de cabeça e nas pernas, anormalidades do aparelho digestivo e derrames.

Tratamento para Todos

As sessões podem custar de 45 a 180 reais, dependendo do médico, da duração do tratamento e da técnica utilizada. 

Alguns planos de saúde já oferecem a acupuntura, mas quase sempre com um número limitado de aplicações por ano. 

Portanto, fique de olho em seus direitos: como é uma especialidade médica, a acupuntura deve constar em todos os planos novos.

Também é possível buscar ajuda em centros de atendimento gratuito, onde as filas são longas. Em São Paulo, o Hospital São Paulo (o qual nasci), o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e o Hospital do Servidor Público realizam o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

As associações podem oferecer o contato de profissionais e informar o paciente sobre os locais de atendimento gratuito em outros estados. 

Associação Brasileira de Acuputura (ABA): www.abapuntura.com.br

Associação de Medicina Tradicional Chinesa no Brasil (AMC): www.amcbr.org.br

Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura: www.smba.org.br

Clínica Dr. Hong Jin Pai: www.hong.com.br



FIM.:.  

Equilíbrio que Vem das Agulhas - Parte 2

(A Acupuntura nas mãos é uma técnica pouco conhecida e está entre o grupo da Reflexologia, os pontos localizados nas mãos, pés e orelhas do paciente)

Nas últimas décadas, estudos publicados no mundo inteiro comprovaram a eficácia da acupuntura na prevenção e no tratamento de doenças. 

(Alguns pontos da face aliviam o paciente que sofre de apnéia, principalmente se ele tiver sinusite)

Na Universidade Federal de São Paulo, por exemplo, pesquisadores demonstraram que ela funciona em pacientes com gastrite e apnéia do sono - um distúrbio que provoca pausas involuntárias da respiração.

Quando a doença está no início, a técnica pode curar definitivamente.

(Professor Wu Tu Hsing Diretor do setor de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas em São Paulo)

Reconhecida no Brasil como especialidade pelo Conselho Federal de Medicina, em 1995, a Acupuntura vem sendo praticada e estudada em centros de saúde de todo o país. 

Uma de suas vantagens é o fato de privilegiar o equilíbrio do organismo como um todo, não se concentrando num único sintoma ou doença. 

Até um problema de fígado pode estar associado a alterações emocionais.

(Alguns acupunturistas acreditam que a técnica ajuda a mulher durante a gravidez)

Além disso, quase não há contra-indicações. Contudo, alguns médicos recomendam cautela no tratamento de gestantes e costumam evitar a técnica em pessoas com problemas de cicatrização.

Quanto às agulhas em si, o mais indicado é utilizar as descartáveis ou esterilizadas em alta temperatura. 

Apesar de tantos aspectos positivos, os especialistas divergem quanto à eficácia da acupuntura na prevenção de doenças. 

(A Neuromodulação observa a eficiência das agulhas nos processos cerebrais. Aqui mostra-se a redução de batimentos cardíacos e da dor no tratamento de pontos do joelho e pernas)

Crises de TPM e enxaqueca, por exemplo, podem ser evitadas, mas quem não tem nada não precisa de tratamento.

Há quem discorde...

A acupuntura evita a manifestação da doença, asseveram os mais tradicionais especialistas da arte. 

(Na China antiga a Acupuntura era passada de mestre a discípulo com a ajuda de um modelo de madeira)

Na China antiga, aliás, os médicos só eram remunerados enquanto seus pacientes não adoeciam.

Quando um deles ficava doente, o médico tinha que tratá-lo gratuitamente até que se recuperasse.

Até que não é má ideia!



Continua...


  

Equilíbrio Que Vem das Agulhas - Parte 1


A acupuntura é uma terapia que os chineses praticam há pelo menos 5 mil anos e vem seduzindo um número cada vez maior de ocidentais. Seus adeptos estão convencidos dos benefícios desse método, que tem uma visão global do ser humano.

(Brasão da especialidade em Acupuntura e Fisioterapia)

Entra ano e sai ano, e a gente continua procurando formas menos agressivas de cuidar da saúde. Ás vezes duvidamos ser possível tratar de doenças sérias ou crônicas - como rinite, depressão, infertilidade, hipertensão e até alcoolismo - com os métodos alternativos. 

Pois esse horizonte, para alguns distante, está ao alcance de todos na forma de agulhas.

(A medicina chinesa descobriu que ativar alguns pontos do corpo trazia saúde e bem estar ao homem)

A milenar técnica chinesa da acupuntura, que sempre teve adeptos aguerridos no Ocidente, tem sua eficiência cada vez mais comprovada. Um alívio e tanto para quem acredita na proposta de enxergar a cura como um processo, no qual a doença é apenas a manifestação de um desequilíbrio global do organismo. 

Para o próximo ano, fica a sugestão para quem precisa: experimente o poder das agulhas, que vem seduzindo até os cientistas mais ortodoxos. 

(Alguns pontos do corpo e suas correlações com as enfermidades)

Mais de 100 enfermidades podem ser tratadas com a acupuntura, garante a Organização Mundial da Saúde - OMS. Em recente documento, ela lista 107 doenças ou sintomas que melhoram com a técnica. 

A eficiência não é 100% garantida para todos os problemas relacionados, mas a entidade acredita que, para cada um deles, vale a pena ao menos tentar essa abordagem terapêutica. 

(Poucos livros restaram das antigas técnicas chinesas da acupuntura, mas essa arte não pertencia apenas aos chineses. Hoje se sabe que até entre alguns europeus ela já ocorria. A origem da arte de estimular os pontos do corpo ainda é desconhecida) 

As origens da acupuntura são antiquíssimas. Evidências arqueológicas sugerem que ela já existia na China pelo menos 5 mil anos atrás. Mais tarde, sofreu adaptações ao ser importada por outros povos, como os coreanos e os japoneses.

(A Reflexologia, a acupuntura dos pés, foi especializada e divulgada entre os coreanos)

Cada escola desenvolveu um método próprio: Os chineses aplicam as agulhas com mais profundidade - de 0,3 a 10 cm, dependendo do caso - os japoneses inserem-nas superficialmente, enquanto os coreanos preferem espetar a palma da mão ou a planta do pé.

Os pontos de aplicação também variam. 

(Agora os médicos acupunturistas estão tentando criar um padrão de tratamento em 2014, que difere muito entre os profissionais e países)

Em 2014, a OMS deve publicar uma lista revisada com os pontos que as três vertentes compartilham, criando um padrão mundial para os acupunturistas. O princípio de todos é o mesmo. 

A acupuntura regulariza as desarmonias energéticas do corpo. Quanto a isso, não há discordância.

Pontos de Energia

De acordo com a interpretação dos antigos chineses, as doenças são causadas por um desequilíbrio entre as duas forças cósmicas - o yin e o yang - em nosso organismo.

(O Ying e Yang são uma representação das energias cósmicas e básicas que compõem e constituem todas as coisas. Harmonizar as polaridades é o propósito da acupuntura)

Isso pode acontecer por estresse, alimentação inadequada e situações de descontrole emocional, entre outros fatores. 

A desarmonia obstrui o qi (ou ch'i, dependendo da escola), energia vital que flui por caminhos chamados meridianos (linhas de energia que percorrem nosso corpo). 

(Todos os homens deveriam saber dominar seu Qi, ou sua energia vital interna que pode ser acionada de várias formas, dentre as muitas técnicas, as Artes Marciais é um caminho)

E é aqui que entram as agulhas. 

Ao inseri-las em pontos ao longo dos meridianos, o acupunturista redistribui a energia, prevenindo ou curando uma série de problemas de saúde e de comportamento. 

O diagnóstico quase sempre é feito à moda antiga: o especialista observa postura, voz, modo de andar, cor do rosto, expressão facial, pulso e aspecto da língua do paciente. Os meridianos equivalem a nosso sistema nervoso periférico, e cada ponto correspondente a uma terminação nervosa.

(Médicos acupunturistas e especialistas em Medicina Alternativa da Clínica VIVACE em Vitória da Conquista)

É isso que explica os efeitos terapêuticos.

Você pode acreditar que as forças cósmicas de seu corpo serão equilibradas ou confiar na ação dos neurotransmissores - substâncias que conduzem os estímulos elétricos entre as células nervosas - liberados após uma sessão de acupuntura, aliviando a dor e outros sitomas. 

De um jeito ou outro, acredite, as agulhas funcionam mesmo...!


Continua...



Tratamento de Ponta - Parte 3



Além da Dor

Boa explicação, de fato. O único problema é que ela só explica o mecanismo de ação da agulhas no tratamento da dor. E as agulhas não tratam só a dor, como reconhece a Organização Mundial de Saúde. Segundo o órgão da ONU, a acupuntura é eficaz no tratamento de cerca de 40 enfermidades.

A acupuntura age muito bem nos desequilíbrios energéticos e funcionais, como depressão, ansiedade, estresse, insônia, obesidade e enxaqueca, e quase sempre é curativa. Mas, nas doenças orgânicas ou lesionais, como câncer, diabetes e derrames, ela é um tratamento coadjuvante. Para esses casos que não envolvem dor, a explicação da medicina ocidental não serve. Os médicos admitem que as agulhadas funcionam, mas não sabem como.

O instrumental básico da acupuntura são as agulhinhas, que têm a espessura de um fio de cabelo e são cerca de dez vezes mais finas que uma agulha de injeção comum. Elas costumam ser feitas de aço inoxidável e têm o cabo banhado em prata, cobre ou outro metal.

Seu tamanho é varável, dependendo do local onde vai ser aplicado, e pode ir de 1 a até 12 centímetros. As mais usadas medem 3 centímetros. A quantidade de agulhas espetadas no paciente depende da patologia. Se o acupunturista vai tratar um desequilíbrio constitucional ou fazer a prevenção de doenças, costuma-se utilizar poucas agulhas, mas, se o objetivo é tratar doenças agudas e sintomáticas, o número é maior.

Antes que alguém pergunte, desequilíbrio constitucional é um ponto vulnerável da constituição genética de cada um. Se ao fazer a consulta o acupunturista achar que o fígado da pessoa é fraco, ele vai espetar os pontos que equilibram esse órgão. Como a doença ainda não se instalou e o corpo está mais equilibrado, a aplicação envolve menos pontos. Já para tratar doenças agudas, que muitas vezes envolvem dor, é preciso espetar pontos de vários meridianos.

As agulhas são pessoais ou descartáveis. O tempo de aplicação das agulhas varia de pessoa para pessoa, mas geralmente elas ficam espetadas em torno de 30 minutos.

Outro benefício é que as agulha podem ser utilizadas com outros tratamentos, alopáticos ou homeopáticos. Na nossa experiência prática percebemos que a acupuntura atua no sentido de reduzir a duração dos outros tratamentos. E não têm contra-indicação ou reações adversas, a não ser uma careta de aflição ao ver a agulha espetada na mão, na barriga ou no rosto. Mas o susto logo passa e ajuda saber que as aplicações geralmente não causam sangramento nem dor.

A sensação é de um leve choque elétrico. Além disso, quanto menos saudável estiver o órgão ativado, mais o paciente sentirá a espetada.


Diagnóstico Complexo

No primeiro contato do paciente com o acupunturista é feito um detalhado diagnóstico, dividido em quatro etapas: inspeção, auscultação e olfatação (as duas são uma etapa só), palpação e interrogatório. A inspeção consiste na observação geral do paciente. O acupunturista fica atento ao jeito de caminhar e de sentar do paciente, aos movimentos do corpo, à coloração do rosto, da lígua e da pele. Em seguida, sente-se o cheiro exalado pela pessoa, o odor de seu hálito e ouvimos sua respiração, fala e tosse.

O terceiro passo é a palpação, quando pressionamos certas áreas do corpo. Pelo pulso é possível saber como está a função dos orgãos internos, como coração, fígado, rins, pulmão e a energia vital da pessoa. O último passo do diagnóstico é uma conversa sobre a doença. O diagnóstico é uma etapa fundamental para o sucesso do tratamento. Para fazê-lo corretamente, é preciso muito estudo e treino.

Além de toda essa investigação, muitos profissionais solicitam exames médicos para confirmar o diagnóstico.

O Brasil é um dos países do Ocidente onde a acupuntura está mais avançada. A técnica é reconhecida como especialidade médica desde 1995 e passou a fazer parte do Sistema Único de Saúde em 1988 - até planos de saúde pagam sessões de espetadas. Hoje, existem cerca de 90 instituições vinculadas ao SUS que oferecem gratuitamente tratamentos com acupuntura pelo país.

Um dos principais é o ambulatório da Unifesp, a primeira universidade do Ocidente a implantar um pronto-socorro de acupuntura. A instuição atende cerca de 2500 pessoas por mês e mantém um curso de especialização com mais de 200 alunos matriculados. Existem outras 30 instituições que promovem cursos de especialização em acupuntura em todo o Brasil.

Estima-se que existam entre 5 mil e 7 mil médicos praticantes de acupuntura no país, porém apenas uma parcela reduzida com o título de especialista reconhecido pela Associação Médica Brasileira (AMB). Além deles, atuam no país outros cerca de 25 mil acupunturistas que não têm formação médica.

Não há nada ilegal nisso: no Brasil, a profissão não está regulamentada, ou seja, qualquer pessoa pode praticá-la. Para garantir, é bom pedir indicações de alguma entidade de acupuntura.


FIM.




Referências Bibliográficas

Associação Médica Brasileira de Acupuntura (AMBA) www.amba.org.br, (11) 5572-1666

Associação de Medicina Chinesa e Acuuntura do Brasil (Ameca), www.ameca.com.br, (11) 3209-8189

Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura (SMBA), www.smba.org.br, (81) 3227-7559

Livros

Acupuntura Clássica Chinesa, de Tom Sintan Wen, ed. Cultrix, 1985.

Medicina Chinesa, de Debora Dines, Coleção Para Saber Mais, Superinteressante, 2003.

Acupuntura sem Agulhas, de Keith Kenyon, ed. Pensamento, 1974.



Tratamento de Ponta - Parte 2

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Era uma vez...

A acupuntura surgiu no vale do rio Amarelo, junto à costa do mar da China, por volta de 3000 a.C., e estendeu-se por todo o império chinês.

Naquele tempo, as agulhas eram feitas de pedra, osso e bambu. Coube ao imperador Huang Di, que viveu no século 1 a.C. e é considerado um dos precursores da medicina tradicional chinesa, difundir a técnica, cujos princípios estão presentes no Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo (Huang Di Nei Jing), a mais importante obra clássica sobre medicina chinesa.

Durante a dinastia Tsing (1644-1911), a acupuntura perdeu sua importância como método de tratamento e a medicina chinesa passou por um longo período de estagnação.

Ao final da dinastia, a medicina ocidental foi introduzida no país e a acupuntura, banida das escolas médicas. Essa situação só teve fim com a chegada ao poder do líder comunista Mao Tsé-tung, em 1949. Ele oficializou a medicina chinesa e a acupuntura ganhou um forte impulso. Milhares de acupunturistas foram formados nas escolas chinesas.

No Brasil, a técnica foi introduzida a partir da segunda metade do século passado, quando chegaram ao país imigrantes orientais, vindos da China e do Japão. Em 1961, foi fundada a Associação Brasileira de Acupuntura, que se tornaria o órgão oficial da acupuntura no país.


Sem Agulhas

Se você tem medo de ser espetado, saiba que pode se beneficiar dos efeitos da acupuntura recorrendo a outras técnicas correlatas.

Auriculoterapia

É uma especialidade da acupuntura que utiliza pontos no pavilhão da orelha (a parte externa e frontal da orelha, cheia de curvinhas). Eles são ativados com sementes e também com agulhas, mas bem pequenas, que podem ser deixadas no local por dias. A técnica também é chamada reflexoterapia.

Moxabustão

É uma espécie de acupuntura térmica. Utiliza pequenos bastões de madeira (ou moxas) com artemísia seca (uma erva), que são aplicados nos mesmos pontos das agulhas. O calor atrai as toxinas e libera os caminhos de energia do corpo.

Reflexologia

Segundo os chineses, a planta do pé possui o mapa de todo o corpo humano. Pressionar pontos nela desbloqueia o fluxo de energia, estimulando a cura e restaurando o equilíbrio do corpo.

Shiatsu

No lugar de agulhas, os pontos de acupuntura são estimulados pela massagem feita com os polegares, os dedos e as palmas das mãos. É uma terapia preventiva, mas que pode ser usada como técnica complementar em alguns tratamentos.


Continua...

Tratamento de Ponta - Parte 1


Milênios depois de ser criada, a acupuntura convence o Ocidente e ganha adeptos. Conheça sua origem, como funciona e para que é indicada. 

Em 1972, a China ainda era uma nação fechada para o mundo quando o então presidente americano Richard Nixon fez uma visita histórica ao país, acompanhado por um batalhão de jornalistas. Entre eles estava o repórter James Reston, correspondente do jornal The New York Times, que durante a visita teve a sorte de sofrer uma crise de apendicite e precisou ser operado de urgência. Sim, sorte.

Tudo bem, ser operado em um país distante e desconhecido é dureza, ainda mais quando, em vez de analgésicos, os médicos resolvem tratar a dor espetando agulhas pelo corpo, durante a cirurgia e no pós-operatório. Mas se não fosse pela doença (que afinal apareceria de um jeito ou de outro) Reston não teria descolado a melhor história de sua viagem à China.

O relato do misterioso tratamento ocupou a primeira página do jornal nova-iorquino e despertou a atenção de milhões de americanos para a acupuntura, que era pouco conhecida no Ocidente.

Mas isso foi no passado. Desde então, a ciência já estudou e comprovou a eficácia da terapia para diversos males e deu credibilidade à acupuntura. Só para se ter uma ideia, sua eficácia no tratamento de dor crônica é de 50% a 85% comparável à de drogas potentes como a morfina, que dá certo em 70% dos casos. Com a vantagem de que as agulhinhas não são tóxicas e não causam dependência.

No entanto, como tanta gente ainda fica com o cabelo espetado pela ideia de ser agulhado, vale a pena explicar o que é, de onde vem e para que serve esse negócio de cutucar o corpo com pontas aguçadas.


Uma Longa História

Surgida há aproximadamente 5 mil anos na China, a acupuntura ("punção com agulhas", em latim) é um dos componentes da medicina tradicional chinesa, junto de tratamento com ervas, dieta alimentar equilibrada, prática de massagens (tuiná, do-in e shiatsu) e exercícios.

Os resultados da acupuntura são muito mais rápidos e intensos quando o paciente se submete a um tratamento global e muda seu estilo de vida, adotando uma alimentação saudável e aderindo à prática de exercícios.

A medicina chinesa enxerga o corpo de uma maneira muito diferente dos ocidentais. Para começar, os chineses acreditam que o corpo (e o Universo todo) é regido pelos pólos opostos yin e yang, encontrados em todo ser vivo.

Eles também creem que há canais distribuídos ao longo do corpo, os meridianos, por onde circula a energia vital chamada de chi (pronuncia-se "tchi"). Detalhe: esses canais são invisíveis, impalpáveis, o que dá uma ideia de diferença de sutileza entre as medicinas oriental e ocidental.

Existem 14 meridianos principais, sendo que 12 estão relacionados aos órgãos internos e os outros dois correspondem às energias yin e yang. Os 12 meridianos correspondentes aos órgãos têm simetria bilateral, sendo que seis (fígado, coração, baço, pulmão, rim e pericárdio - um tecido que envolve o coração) circulam pela frente do corpo e no interior de pernas e braços e os outros seis (vesícula biliar, intestino delgado, estômago, intestino grosso, bexiga e triplo aquecedor - sistema que, segundo os chineses, mantém a temperatura dos órgãos internos) correm nas costas e na parte externa dos membros.

Os outros dois meridianos, yin e yang, localizam-se no centro do corpo, pela frente e por trás, as doenças, segundo os orientais, têm origem no desiquilíbrio da energia vital. A acupuntura tem como meta reequilibrar o fluxo energético por meio da aplicação de agulhas em pontos que estariam bloqueando os caminhos da energia.

Desde que o apêndice do tal repórter americano entrou para a história (e mesmo antes, já que os europeus conhecem a técnica desde o século 17), os médicos de cá e de lá trocaram muitas experiências e se influenciaram mutuamente. No entanto, por mais sensata que fosse essa história de enxergar o corpo como um todo e não um amontado de peças, as faculdades de medicina do lado de cá continuam ensinando seus alunos a tratar das partes isoladamente.

Mesmo médicos ocidentais que se renderam aos efeitos comprovados da acupuntura e adotaram as agulhinhas têm resistência a aceitar a teoria da energia vital. Para eles, os tais meridianos nada mais são do que áreas do sistema nervoso. Os acupontos seriam depressões com uma concentração maior de fibras nervosas. Estima-se que existam mais de 2 mil acupontos espalhados pelo corpo.

Aos olhos do Ocidente, as agulhas estimulariam as terminações nervosas dos músculos, que enviariam sinais para o sistema nervoso central, liberando substâncias como serotonina (responsável pela sensação de bem-estar, tranquilidade e sonolência ), cortisol (um antiinflamatório natural) e endorfina (analgésico). A liberação de endorfina explica por que a acupuntura consegue resultados tão bons no tratamento da dor, seja ela crônica ou aguda.


Continua...


Aranel Ithil Dior