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Sara Cristine Moraes Oliveira
Além da Dor
Boa explicação, de fato. O único problema é que ela só explica o mecanismo de ação da agulhas no tratamento da dor. E as agulhas não tratam só a dor, como reconhece a Organização Mundial de Saúde. Segundo o órgão da ONU, a acupuntura é eficaz no tratamento de cerca de 40 enfermidades.
A acupuntura age muito bem nos desequilíbrios energéticos e funcionais, como depressão, ansiedade, estresse, insônia, obesidade e enxaqueca, e quase sempre é curativa. Mas, nas doenças orgânicas ou lesionais, como câncer, diabetes e derrames, ela é um tratamento coadjuvante. Para esses casos que não envolvem dor, a explicação da medicina ocidental não serve. Os médicos admitem que as agulhadas funcionam, mas não sabem como.
O instrumental básico da acupuntura são as agulhinhas, que têm a espessura de um fio de cabelo e são cerca de dez vezes mais finas que uma agulha de injeção comum. Elas costumam ser feitas de aço inoxidável e têm o cabo banhado em prata, cobre ou outro metal.
Seu tamanho é varável, dependendo do local onde vai ser aplicado, e pode ir de 1 a até 12 centímetros. As mais usadas medem 3 centímetros. A quantidade de agulhas espetadas no paciente depende da patologia. Se o acupunturista vai tratar um desequilíbrio constitucional ou fazer a prevenção de doenças, costuma-se utilizar poucas agulhas, mas, se o objetivo é tratar doenças agudas e sintomáticas, o número é maior.
Antes que alguém pergunte, desequilíbrio constitucional é um ponto vulnerável da constituição genética de cada um. Se ao fazer a consulta o acupunturista achar que o fígado da pessoa é fraco, ele vai espetar os pontos que equilibram esse órgão. Como a doença ainda não se instalou e o corpo está mais equilibrado, a aplicação envolve menos pontos. Já para tratar doenças agudas, que muitas vezes envolvem dor, é preciso espetar pontos de vários meridianos.
As agulhas são pessoais ou descartáveis. O tempo de aplicação das agulhas varia de pessoa para pessoa, mas geralmente elas ficam espetadas em torno de 30 minutos.
Outro benefício é que as agulha podem ser utilizadas com outros tratamentos, alopáticos ou homeopáticos. Na nossa experiência prática percebemos que a acupuntura atua no sentido de reduzir a duração dos outros tratamentos. E não têm contra-indicação ou reações adversas, a não ser uma careta de aflição ao ver a agulha espetada na mão, na barriga ou no rosto. Mas o susto logo passa e ajuda saber que as aplicações geralmente não causam sangramento nem dor.
A sensação é de um leve choque elétrico. Além disso, quanto menos saudável estiver o órgão ativado, mais o paciente sentirá a espetada.
Diagnóstico Complexo
No primeiro contato do paciente com o acupunturista é feito um detalhado diagnóstico, dividido em quatro etapas: inspeção, auscultação e olfatação (as duas são uma etapa só), palpação e interrogatório. A inspeção consiste na observação geral do paciente. O acupunturista fica atento ao jeito de caminhar e de sentar do paciente, aos movimentos do corpo, à coloração do rosto, da lígua e da pele. Em seguida, sente-se o cheiro exalado pela pessoa, o odor de seu hálito e ouvimos sua respiração, fala e tosse.
O terceiro passo é a palpação, quando pressionamos certas áreas do corpo. Pelo pulso é possível saber como está a função dos orgãos internos, como coração, fígado, rins, pulmão e a energia vital da pessoa. O último passo do diagnóstico é uma conversa sobre a doença. O diagnóstico é uma etapa fundamental para o sucesso do tratamento. Para fazê-lo corretamente, é preciso muito estudo e treino.
Além de toda essa investigação, muitos profissionais solicitam exames médicos para confirmar o diagnóstico.
O Brasil é um dos países do Ocidente onde a acupuntura está mais avançada. A técnica é reconhecida como especialidade médica desde 1995 e passou a fazer parte do Sistema Único de Saúde em 1988 - até planos de saúde pagam sessões de espetadas. Hoje, existem cerca de 90 instituições vinculadas ao SUS que oferecem gratuitamente tratamentos com acupuntura pelo país.
Um dos principais é o ambulatório da Unifesp, a primeira universidade do Ocidente a implantar um pronto-socorro de acupuntura. A instuição atende cerca de 2500 pessoas por mês e mantém um curso de especialização com mais de 200 alunos matriculados. Existem outras 30 instituições que promovem cursos de especialização em acupuntura em todo o Brasil.
Estima-se que existam entre 5 mil e 7 mil médicos praticantes de acupuntura no país, porém apenas uma parcela reduzida com o título de especialista reconhecido pela Associação Médica Brasileira (AMB). Além deles, atuam no país outros cerca de 25 mil acupunturistas que não têm formação médica.
Não há nada ilegal nisso: no Brasil, a profissão não está regulamentada, ou seja, qualquer pessoa pode praticá-la. Para garantir, é bom pedir indicações de alguma entidade de acupuntura.
FIM.
Referências Bibliográficas
Associação Médica Brasileira de Acupuntura (AMBA) www.amba.org.br, (11) 5572-1666
Associação de Medicina Chinesa e Acuuntura do Brasil (Ameca), www.ameca.com.br, (11) 3209-8189
Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura (SMBA), www.smba.org.br, (81) 3227-7559
Livros
Acupuntura Clássica Chinesa, de Tom Sintan Wen, ed. Cultrix, 1985.
Medicina Chinesa, de Debora Dines, Coleção Para Saber Mais, Superinteressante, 2003.
Acupuntura sem Agulhas, de Keith Kenyon, ed. Pensamento, 1974.