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Os Guerreiros de Buda - Parte 2


O primeiro incidente ocorreu quando 56 monges de Nara marcharam rumo à casa de um oficial de Kyoto a fim de protestar contra a escolha de religiosos de Enryakuji para conduzir um ritual. O resultado foi um quebra-quebra geral, com vários manifestantes mortos.

A situação deteriorou-se rapidamente e ambos os monastérios começaram a treinar forças regulares de monges, já prevendo o pior. Nasciam aí os primeiros exércitos de monges guerreiros. Para eles, foi fácil canalizar toda a disciplina adquirida na prática da clausura para a prática da guerra.

Aguerridos, fanáticos e prontos para a luta, eles eram extremamente temidos, do mesmo modo como a ordem militar dos templários era temida no Ocidente.


Mas de acordo com estudiosos, os conflitos entre os sohei não tinham nenhum fundo religioso. Essas disputas entre templos e facções não devem ser compreendidas por nós como guerras religiosas. Eles não envolviam pontos da doutrina, ou dogmas, como acontecia com os conflitos na Europa medieval. A questão era puramente política.

Seja como for, as disputas entre os monges - e o nível de violência de ambas as partes - cresceram ainda mais, e várias delas terminavam com a pilhagem e o incêndio dos templos rivais.

A situação chegou a tal ponto de degeneração que, como relata o épico Heike Monogatari, o próprio imperador japonês, desanimado, teria dito: "Há três coisas que estão além do meu controle: as correntezas do Rio Komo, o número de dado nas apostas e os monges da montanha".

Crepúsculo de uma Era

Em 1180 com a crescente desagregação do poder central, o Japão mergulhou numa guerra civil. A essa altura, os diversos monastérios eram, além de forças políticas, consideráveis potências militares. E tomaram partidos opostos.

Os monges de Enryajkuji, no monte Hiei, apoiaram o clã dos Tairas, enquanto os sacerdotes de Nara e Miidori uniram forças aos Minamotos. Quando os Tairas triunfaram, o grande templo em Nara estava com seu destino selado: foi queimado até o chão, garantindo para Enryakuji o poder absoluto nas esferas religiosa e, claro, política e comercial.
(monges de Enryakuji atualmente)

Em 1280, os sacerdotes controlavam 80% das destilarias de saquê e das casas de empréstimo, além de contar com uma força de intimidação para estimular os devedores a coibir os arruaceiros.
Templo Enryakuji

Entretanto, esse domínio relativamente tranquilo dos monges de Enryakuji, que perdurou por alguns séculos, também chegou ao fim. Mas uma vez, a guerra iria desestabilizar o universo dos sohei. Mas, desta vez, para sempre.

Por volta de 1470, o poder central novamente se enfraqueceu e o Japão entrou novamente numa longa guerra civil, que durou cerca de 180 anos. Com o caos instalado, o poder dos sohei voltava a ser o fiel da balança.

Acontece que, naquela época, novas castas de guerreiros budistas, ainda mais radicais, haviam surgido nas províncias: para eles, morrer em combate por Buda era uma passagem direta para a Iluminação. Estas seitas fundamentalistas cresceram à revelia dos monges do Monte Hiei e não demorou muito paa que decidissem ocupar o poder político de fato.

Finalmente, uma delas realizou um feito inédito: tomou o controle de uma província - pela primeira vez, os senhores de uma terra não eram aristocratas ou samurais.


Continua...







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Aranel Ithil Dior