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Michelangelo
Ao olhar para o alto na capela Sistina, fiéis têm um êxtase duplo: Veneram o Criador e encantam-se com os afrescos de Michelangelo. Mas apesar dessa aura sublime, a pintura da obra foi cercada de intrigas e toda sorte de contratempos.
Enfraquecida por disputas internas e polêmicas envolvendo autoridades religiosas, no início do século 16 a Igreja Católica passava por um período de crise. Na mesma época, como se refletisse os rachas da instituição, um dos prédios centrais do Vaticano apresentava sérios indícios de fragilidade: A Capela Sistina ameçava ruir.
A edificação tinha problemas de estrutura, provocados pelo afundamento do solo, e uma série de rachaduras havia aberto fendas no teto. Era preciso fazer algo, urgente.
As fissuras apareceram em 1504, no reinado do papa Júlio II, que tomou providências imediata para salvar a construção. Ele era sobrinho de Disto IV, fundador da capela, de quem herdou um carinho particular por aquele lugar.
E o encargo de pintar o teto da capela ficou por conta de ninguém menos que o genial artista florentino Michelangelo Buonarotti, que, ao final de seu trabalho, havia dado vida a uma das criações mais monumentais da história da arte.
Acontece que, por trás dessa obra sublime, repousa um dos processos mais conturbados de criação artística, cercado por brigas, contratempos, intrigas e, principalmente interesses políticos.
O papa via na grandiosidade das obras arquitetônicas e artísticas uma maneira de restabelecer e propagar a glória da Igreja Católica, não poupando esforços nesse sentido. Assim que assumiu o posto, em 1503, Júlio II dedicou sua enorme energia para garantir o poder e a glória do papado.
O pontífice por exemplo, já havia encomendado a Michelangelo, famoso pela escultura de Pietá e Davi, um túmulo de mármore de 15 metro de altura para abrigar seus restos mortais.
Mas o ápice desse ambicioso processo de glorificação ainda estava por vir. Michelangelo mal havia comprado as toneladas de mármore para a execução da tumba papal e já foi convocado para a nova empreitada, esta sim destinada a entrar para História: a pintura do teto da Capela Sistina.
Gênese Turbulenta
Entretanto, a própria escolha de Michelangelo para dar vida aos 1.100 metros quadrados da abóboda da capela já deu início aos contratempos.
Inexperiente na técnica do afresco, o artista respondeu com um sonoro não ao convite do papa. O afresco é uma técnica em que não se pode errar, porque deve ser feito enquanto a argamassa está fresca. Se errar, não há como corrigir.
Além da falta de afinidade com a pintura, o escultor tinha outra razão para a recusa: ele acreditava que seus inimigos haviam convencido o papa a escolhê-lo para que, ao fracassar na tarefa, ele perdesse a fama, e assim, favorecesse a ascensão de seu maior rival, o também italiano - e genial - Rafael Santi.
Porém, a hipótese de conspiração é um pouco exagerada. Michelangelo havia ficado famoso pelos esboços que fez para os afrescos do Palazzo della Signoria, em Florença, mesmo eles nunca tendo saído do papel. Assim, não é de estranhar que o papa Júlio II o tenha escolhido para a realização do afresco da Sistina.
Mas, de acordo com os estudiosos, a preocupação do escultor, de forma alguma pode ser considerada fruto de algum surto paranóico. A corte papal era um ambiente de muitas intrigas, e havia uma competição grande entre os artistas.
Seja como for, meses após o início das investidas papais, Michelangelo acabou cedendo e deu início à execução da obra.
Mas o começo dos trabalhos não significou o fim dos atritos entre artista e mecenas. A relação de amor e ódio entre o papa e Michelangelo encontra até um paralelo irônico nas primeiras imagens pintadas pelo artista: muitas cenas do Gênesis descrevem o relacionamento nem sempre harmonioso entre o Criador e suas criaturas, como quando Deus se enfurece com os homens e manda o Dilúvio sobre a Terra.
Coincidências à parte, o fato é que Júlio II pairou como como uma sombra ao longo de toda a execução da obra, para garantir que seu objetivo - a glorificação da Igreja Católica - fosse alcançado.
Michelangelo foi escolhido para pintar um ciclo histórico que começa com a criação do mundo e termina com a legitimação do poder papal. E os afrescos nas paredes - pintados por outros artistas - completam a tarefa: algumas cenas enfatizam a entrega das chaves da Igreja a São Pedro, o primeiro papa.
Continua...
Porém, a hipótese de conspiração é um pouco exagerada. Michelangelo havia ficado famoso pelos esboços que fez para os afrescos do Palazzo della Signoria, em Florença, mesmo eles nunca tendo saído do papel. Assim, não é de estranhar que o papa Júlio II o tenha escolhido para a realização do afresco da Sistina.
Mas, de acordo com os estudiosos, a preocupação do escultor, de forma alguma pode ser considerada fruto de algum surto paranóico. A corte papal era um ambiente de muitas intrigas, e havia uma competição grande entre os artistas.
Seja como for, meses após o início das investidas papais, Michelangelo acabou cedendo e deu início à execução da obra.
Mas o começo dos trabalhos não significou o fim dos atritos entre artista e mecenas. A relação de amor e ódio entre o papa e Michelangelo encontra até um paralelo irônico nas primeiras imagens pintadas pelo artista: muitas cenas do Gênesis descrevem o relacionamento nem sempre harmonioso entre o Criador e suas criaturas, como quando Deus se enfurece com os homens e manda o Dilúvio sobre a Terra.
Coincidências à parte, o fato é que Júlio II pairou como como uma sombra ao longo de toda a execução da obra, para garantir que seu objetivo - a glorificação da Igreja Católica - fosse alcançado.
Michelangelo foi escolhido para pintar um ciclo histórico que começa com a criação do mundo e termina com a legitimação do poder papal. E os afrescos nas paredes - pintados por outros artistas - completam a tarefa: algumas cenas enfatizam a entrega das chaves da Igreja a São Pedro, o primeiro papa.
Continua...