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Tratamento de Ponta - Parte 1


Milênios depois de ser criada, a acupuntura convence o Ocidente e ganha adeptos. Conheça sua origem, como funciona e para que é indicada. 

Em 1972, a China ainda era uma nação fechada para o mundo quando o então presidente americano Richard Nixon fez uma visita histórica ao país, acompanhado por um batalhão de jornalistas. Entre eles estava o repórter James Reston, correspondente do jornal The New York Times, que durante a visita teve a sorte de sofrer uma crise de apendicite e precisou ser operado de urgência. Sim, sorte.

Tudo bem, ser operado em um país distante e desconhecido é dureza, ainda mais quando, em vez de analgésicos, os médicos resolvem tratar a dor espetando agulhas pelo corpo, durante a cirurgia e no pós-operatório. Mas se não fosse pela doença (que afinal apareceria de um jeito ou de outro) Reston não teria descolado a melhor história de sua viagem à China.

O relato do misterioso tratamento ocupou a primeira página do jornal nova-iorquino e despertou a atenção de milhões de americanos para a acupuntura, que era pouco conhecida no Ocidente.

Mas isso foi no passado. Desde então, a ciência já estudou e comprovou a eficácia da terapia para diversos males e deu credibilidade à acupuntura. Só para se ter uma ideia, sua eficácia no tratamento de dor crônica é de 50% a 85% comparável à de drogas potentes como a morfina, que dá certo em 70% dos casos. Com a vantagem de que as agulhinhas não são tóxicas e não causam dependência.

No entanto, como tanta gente ainda fica com o cabelo espetado pela ideia de ser agulhado, vale a pena explicar o que é, de onde vem e para que serve esse negócio de cutucar o corpo com pontas aguçadas.


Uma Longa História

Surgida há aproximadamente 5 mil anos na China, a acupuntura ("punção com agulhas", em latim) é um dos componentes da medicina tradicional chinesa, junto de tratamento com ervas, dieta alimentar equilibrada, prática de massagens (tuiná, do-in e shiatsu) e exercícios.

Os resultados da acupuntura são muito mais rápidos e intensos quando o paciente se submete a um tratamento global e muda seu estilo de vida, adotando uma alimentação saudável e aderindo à prática de exercícios.

A medicina chinesa enxerga o corpo de uma maneira muito diferente dos ocidentais. Para começar, os chineses acreditam que o corpo (e o Universo todo) é regido pelos pólos opostos yin e yang, encontrados em todo ser vivo.

Eles também creem que há canais distribuídos ao longo do corpo, os meridianos, por onde circula a energia vital chamada de chi (pronuncia-se "tchi"). Detalhe: esses canais são invisíveis, impalpáveis, o que dá uma ideia de diferença de sutileza entre as medicinas oriental e ocidental.

Existem 14 meridianos principais, sendo que 12 estão relacionados aos órgãos internos e os outros dois correspondem às energias yin e yang. Os 12 meridianos correspondentes aos órgãos têm simetria bilateral, sendo que seis (fígado, coração, baço, pulmão, rim e pericárdio - um tecido que envolve o coração) circulam pela frente do corpo e no interior de pernas e braços e os outros seis (vesícula biliar, intestino delgado, estômago, intestino grosso, bexiga e triplo aquecedor - sistema que, segundo os chineses, mantém a temperatura dos órgãos internos) correm nas costas e na parte externa dos membros.

Os outros dois meridianos, yin e yang, localizam-se no centro do corpo, pela frente e por trás, as doenças, segundo os orientais, têm origem no desiquilíbrio da energia vital. A acupuntura tem como meta reequilibrar o fluxo energético por meio da aplicação de agulhas em pontos que estariam bloqueando os caminhos da energia.

Desde que o apêndice do tal repórter americano entrou para a história (e mesmo antes, já que os europeus conhecem a técnica desde o século 17), os médicos de cá e de lá trocaram muitas experiências e se influenciaram mutuamente. No entanto, por mais sensata que fosse essa história de enxergar o corpo como um todo e não um amontado de peças, as faculdades de medicina do lado de cá continuam ensinando seus alunos a tratar das partes isoladamente.

Mesmo médicos ocidentais que se renderam aos efeitos comprovados da acupuntura e adotaram as agulhinhas têm resistência a aceitar a teoria da energia vital. Para eles, os tais meridianos nada mais são do que áreas do sistema nervoso. Os acupontos seriam depressões com uma concentração maior de fibras nervosas. Estima-se que existam mais de 2 mil acupontos espalhados pelo corpo.

Aos olhos do Ocidente, as agulhas estimulariam as terminações nervosas dos músculos, que enviariam sinais para o sistema nervoso central, liberando substâncias como serotonina (responsável pela sensação de bem-estar, tranquilidade e sonolência ), cortisol (um antiinflamatório natural) e endorfina (analgésico). A liberação de endorfina explica por que a acupuntura consegue resultados tão bons no tratamento da dor, seja ela crônica ou aguda.


Continua...


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Aranel Ithil Dior