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Boca Fechada - Parte 1


Tradição em diversas religiões, o jejum dá um descanso ao organismo, reeduca a alimentação e favorece a introspecção. 

A gente tem sempre abordado assuntos de prazer e cuidados com o corpo. Às vezes, brincamos com a Astrologia e como os oráculos interagem com nosso corpo. De algum jeito, temos sempre abordado questões de prazer físico ou espiritual. 

Um dos maiores prazeres do corpo é comer, para sair um pouco da rotina, vamos fazer justamente o oposto: vamos falar de jejum  que é quando ficamos um período sem comer nada sólido e tomamos apenas líquidos. Está certo que nem todo mundo consegue se imaginar passando 24 horas sem botar um grão sequer de arroz na boca, e tomar apenas água ou suco, mas quem jejua garante que é bom e ajuda a limpar o organismo. 

Na cultura hindu, que baseia seus hábitos alimentares na medicina ayurvédica, jejuar é ato cotidiano. O décimo primeiro dia de cada mês é o ekadasi, o dia em que ninguém come sólidos e apenas ingere um pouco de líquido. Em geral, as pessoas exageram na quantidade de comida e não têm uma dieta balanceada. Por conta desse excesso, e porque estamos sempre comendo, o organismo não tem tempo de digerir os alimentos em sua totalidade e eles se putrefazem dentro do corpo, tornando-se tóxicos. Aí o jejum ajuda a eliminar essas toxinas que sobraram. 

O dia sem comer também auxilia na liberação das toxinas dos agrotóxicos das verduras e legumes, do tabaco e do álcool ingerido normalmente. 

O jejum, porém, não é unanimidade em todas as medicinas. Nem na ocidental e tampouco em outros modos orientais de ver o corpo, como a medicina chinesa. Muitos terapeutas especializados na Medicina Chinesa não acreditam nessa prática como ferramenta para limpar o corpo. Eles preconizam que se alguém sente necessidade de se desintoxicar é sinal de que está comendo veneno, dizem. 

Por isso, para eles, mais vale uma alimentação o mais natural possível que abster-se de comida. Eles argumentam que se os animais não jejuam volutariamente, os humanos não deveriam fazer o mesmo. Bichos param de comer quando estão doentes e pessoas também. Fora isso, ninguém precisa deixar de comer, afirmam os terapeutas chineses. 

Já a Endocrinologia ocidental explica que naturalmente fazemos jejum diário, enquanto dormimos. Daí, na opinião desses médicos, não temos necessidade metabólica de ficar 24 horas sem comer. Mesmo porque, afirmam, não existe comprovação científica de que a abstenção de comida faça uma faxina extra no organismo para complementar a eliminação rotineira das toxinas por meio das fezes, urina e suor. 

O alerta dos médicos ocidentais é para os adeptos de longos jejuns. Nas primeiras 12 a 24 horas, o organismo usa todo o glicogênio armazenado para suprir a necessidade energética. Após 24 a 48 horas passamos a consumir nossos estoques de gordura e depois de 48 horas o corpo queima a proteína dos músculos.

Daí para a frente o organismo entra em processo de inanição, que leva, por exemplo, à falência muscular, renal e cardíaca e, em casos extremos, à morte. 

Mas é claro que o tempo para se chegar a isso varia conforme o indivíduo, que ficando um ou dois dias de estômago vazio, não será prejudicial a uma pessoa saudável, pois o corpo sobrevive com suas reservas naturais. 


Um Dia Líquido

Então, se você pretende dar um tempo para o seu organismo depurar os excessos que cometeu ao longo da semana, pode ficar um ou dois dias sem comer tranquilamente. Mas tomar água é fundamental. 

Conforme pesquisas realizadas na Universidade de Harvard, estudos sobre os efeitos do jejum em pacientes pediátricos em pós-operatório, o fator mais limitante do jejum é a falta de água. Mais de 90% dos alimentos é composto por líquidos e uma pessoa precisa de pelo menos 2 litros por dia. No jejum sem água, a desidratação acontece em cerca de dois dias e ao fim de sete a dez dias poucas pessoas sobrevivem. 

Adeptos do jejum total conseguem passar o dia tomando água e nada mais. Mas a maioria das pessoas faz jejum parcial, que inclui, a ingestão de suco ou chá, além de água, ao longo de 24 horas. Esses líquidos suprem as necessidades de hidtratação do corpo e o açúcar da frutas alimenta e diminui a fraqueza. 

A diferença em relação a um dia normal é aprender a ficar de estômago vazio sem sofrer com a falta de saciedade que sentimos após as refeições. Por outro lado, experimentamos como é ficar com o corpo mais leve e sem aquela preguicinha típica que nos envolve enquanto fazemos a digestão. 

Além disso, jejuar pode nos fazer reavaliar velhos hábitos. Quando o homem se priva de comida, ele tem um tempo para pensar no quanto come em exagero e em quantas pessoas não têm acesso nem a um quarto dessa comida.

O jejum religioso do ramadã, por exemplo, leva os muçulmanos a compreenderem o que sente uma pessoa com fome e isso desperta a caridade.


Continua...

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Aranel Ithil Dior