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Os Guerreiros de Buda - Parte 1


Combatentes disciplinados os sohei eram monges que como verdadeiros samurais, por séculos representaram uma das principais forças políticas e militares do Japão. 

O ano era 1180, e os ventos da guerra assolavam o Japão. Dois clãs, os Minamotos e os Tairas, dividiam o país entre si. Porém, na sufocante manhã de 23 de junho, os rivais dividiam também o espaço na longa parte de Uji, na província de Iga, cada um postado de um lado.

Há dias os Tairas perseguiam o exército dos Minamotos, que já estava prestes a capitular, e agora bastava apenas atravessar a ponte para exterminar seus inimigos.

A vitória dos Tairas parecia fácil e rápida, mas havia um problema. Escoltando os Minamotos estavam monges budistas do Templo de Miidori, próximo a Kyoto. Acontece que eles não eram simples religiosos nem defenderiam seus protegidos com rezas e meditações. Tratava-se dos lendários sohei: monges guerreiros especialistas em artes marciais e exímios lutadores em vários tipos de armas.

Assim, de posse de suas temíveis naginatas, espadas afiadíssimas com longos cabos de madeira, os sohei postaram-se no meio da ponte e calmamente aguardaram a investida dos Tairas.

Então, como uma grande onda veio o ataque. Foi nesse momento que, segundo a obra clássica Heike Monogatari (A História de Heike), escrita no século 13, os monges demonstraram sua técnica insuperável.

À frente dos companheiros, Gochin No Tajima empunhou sua naginata e barrou a passagem dos guerreiros Tairas, que, intimidados, não ousavam avançar. Preferiram descarregar uma chuva de flechas. Sem se perturbar, Taji-ma abaixava, pulava e desviava de cada uma das setas dirigidas a ele. E se a flecha vinha certeira, ele simplesmente girava sua espada e a cortava ao meio.

Diante da resistência, o ataque ficou ainda mais feroz. Sim, mas desta vez outro monge, Tsutsui Jomyo Meishu, um mestre no caro, assumiu a defesa da ponte e "disparou suas 24 flechas como um raio, matando 12 e ferindo outros 11".

Em seguida avançou com sua naginata para cima dos inimigos, derrubando vários oponentes, até que a arma se quebrou. Impassível, sacou outra espada e mais nove inimigos foram ceifados antes da nova arma ficar inutilizada.

Só lhe restava agora um pequeno punhal, com o qual lutou até ser obrigado a retornar às fileiras. E para desgraça dos Tairas, foi imediatamente substituído por Ichirai Hoshi, que realizou outros prodígios antes de cair sem vida.

A batalha prosseguiu por horas. Quando já caía a noite, porém a esmagadora superioridade numérica dos Tairas conseguiu impor sua vitória. Mas o ato de coragem, auto-sacrifício e suprema abnegação dos monges de Miidori correu o Japão. E virou história.

Senhores da Guerra

Contrastando com a imagem pacífica que todos têm do Budismo hoje, no período entre os séculos 10 e 17 pacifismo e tolerância eram o que menos se poderia esperar das seitas budistas que floresceram no Japão.

Encastelados em seus magníficos templos-fortaleza, os monges mantinham verdadeiros exércitos privados e, durante séculos, influenciaram decisivamente a vida política, social e militar japonesa.

A origem desta casta guerreira pode ser explicada pelo desenvolvimento do Budismo no Japão. Após aportar no país vinda da China, por volta do século 6, a doutrina budista foi se misturando à religião nativa, o Xintoísmo, com a qual convivia pacificamente. As deidades xintoístas, chamadas de kamis, por exemplo, forma logo incorporadas pelo credo estrangeiro como manifestações do próprio Buda.

Em pouco tempo, a nova religião criava raízes até na família real e os templos budistas ao redor de Nara, capital do país no século 7, cresceram em importância. Não demorou muito e o prestígio religioso se transformou também em influência política. Até aí, tudo corria bem...

Porém, em 794, um evento alteraria o equilíbrio de poder no país: a capital moveu-se de Nara para Kyoto (onde ficou até 1868, quando foi transferida para Tóquio). Antes da transferência, os arquitetos reais utilizaram os princípios do feng-shui - a técnica oriental de harmonização de ambientes - para assegurar que a nova região era propícia ao imperador.

Sim, a região de Kyoto era boa, com exceção de um ponto frágil, o nordeste, por onde um demônio poderia assaltar a cidade. Acontece, que, para sorte do imperador, justatmente naquele local de fragilidade, conhecido como Monte Hiei, havia sido erguido um pequeno templo budista, chamado Enryakuji.

O novo santuário foi visto como um sinal de bom agouro e, com a efetiva mudança da capital, os sacerdotes de Enryakuji viram seu prestígio crescer rapidamente, e logo eram eles que conduziam as cerimônias da família real, para inveja dos religiosos de Nara, até então titulares nestas funções.

A animosidade entre os dois centros cresceu e, por volta do século 10, finalmente, chegou às vias de fato.


Continua...



Oração à Iemanjá


Poderosa Rainha das águas
Com sua espuma nos cubra
Livrando-nos de todo mal e iniquidade.
Com suas ondas nos fortaleça
E sua Bondade nos levante nas horas sombrias.
 
Estrela que nos guia!
Farol que nos ampara!
 
Lava com as águas do mar nossas sofridas almas,
Carrega para o fundo nossos erros.
E como grande Mãe que és
Nos abrace em seu regaço.
 
Nos acolha...
 
Permita-nos crescer em espírito
Sob sua firme proteção.
Esteja conosco em todos os momentos
Na tempestade e calmaria
E estaremos sempre aqui,
Em nossas mentes,
À beira deste oceano infinito onde és Soberana,
Agradecendo por sua Bondade e Amor.
 
Estamos sob sua tutela,
E em cada pôr do sol, cada amanhecer,
Estaremos lhe vendo
Na linha do horizonte,
Para sempre gratos
Do fundo de nossas almas.
 
Odoiá, Iemanjá!

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Na Cadência dos Deuses - Parte 2


Na Antiguidade clássica, igualmente, o ato de dançar fazia parte dos rituais. Os gregos acreditavam firmemente no poder das danças mágicas e em numerosas ocasiões realizavam-nas em honra dos habitantes do Olimpo. O próprio mito da criação do povo helênico é contado como uma dança realizada por Gaia, a deusa da Terra.

Envolta em alvos mantos, as vestais rodopiavam como um redemoinho dentro do nada e, conforme iam se tornando visíveis, seus corpos se transformavam em montanhas e velas e seus braços davam origem ao Firmamento, ao qual Gaia dava o nome de Ouranos. De sua união com ele nasceram todas as criaturas, incluindo deuses e seres humanos. 


Na verdade, essa ideia de uma dança da Criação é recorrente no imaginário de todo o planeta. O célebre mito indiano da dança de Shiva conta a história dessa deusa, que envia ondas sonoras à matéra despertando-a de sua letargia. A matéria, então, ganha vida e passa a mover-se ao redor de Shiva.


Os indianos ainda mantêm essa concepção do movimento corporal como um elo com o outro mundo. A própria dança clássica do país nasceu dentro dos templos e durante séculos esteve ligada a práticas ascéticas, sendo vista como uma verdadeira disciplina espiritual.

Atualmente ganhou palcos e escolas do mundo todo, inclusivr do Brasil e seus praticantes narram histórias mitológicas hindus por meio do rico gestual simbólico que a caracteriza.


Sagrada e Profana

No Ocidente, contudo, a dança não teve a mesma sorte dentro dos templos. Aos poucos seus diferentes elementos emanciparam-se, tornando-se atividades e artes separadas, como jogos, exercícios físicos, teatro e religião.

Assim a partir do momento em que se transformou numa forma de espetáculo, deixando de ser realizada para as divindades e colocando-se a serviço do homem, começou a perder sua aura sacra.


Já na roma antiga era considerada profana pelas camadas dominantes, o que levou Cícero, célebre orador do império de Julio Cesar, a declarar: "Nemo fere saltata sobrius" (O homem sóbrio não dança).

Com a expansão do Cristianismo, este processo de dessacralização dos movimentos corporais tornou-se ainda mais agudo, e as danças populares renegadas pela Igreja, que via nelas uma demonstração de paganismo e libidinagem.


A dança teve destino idêntico dentro dos outros credos monoteístas. No Islã, por exemplo, crê-se que ela afastaria o homem do Criador.

Entretanto, apesar da perseguição, diversas manifestações populares corporais acabaram sendo integradas ao contexto religioso, como no caso das procissões e festas cristãs que eram acompanhadas de dança.

Na Espanha, por exemplo, em determinadas ocasiões, dançava-se dentro das próprias igrejas, costume não completamente extinto até hoje.


No Brasil, muitas tradições dançantes, como o maracatu e o reisado, são oriundas de festas religiosas.

Nas danças populares basileiras o Sagrado e o profano convivem harmoniosamente. A separação não é feita pelos brincantes que participam dos festejos, mas sim dos de fora. O que faz da dança um elo com o Divino é a intenção que se coloca nela.


Todo o trabalho corporal que leva em conta a sensibilidade e a autodescoberta, e não apenas o plano estético, torna-se um movimento que leva a uma transcendência. Nesse sentido podemos falar de uma conexão com o Sagrado, não enquanto crença estruturada, mas como início de uma ligação do homem com a Terra, com o espaço e com o cosmos.

Mesmo alguns seguidores do Corão crêem na existência de movimentos corporais que, quando conjugados com uma profunda disciplina espiritual, são capazes de nos lembrar da presença amorosa do Criador.


Os dervixes - adeptos do Sufismo, vetente mística do Islã - praticam o Sama, um giro ritual acompanhado de música que busca a ampliação da consciência e a conexão com Allah.

O Sama, na verdade, é uma oração em movimento. Enquanto gira, o fiel recita interiormente palavras sagradas, o que permite que ele alcance níveis cada vez mais elevados de consciência.

Condenada por uns, defendida por outros - o filósofo alemão Nietzsche chegou a afirmar: "Não acredito em um Deus que não saiba dançar." - o fato é que desde os primórdios a dança acompanha os passos do homem em sua jornada espiritual.

Independentemente da crença, do salto, do ritmo, por meio da expressão corporal o homem descobriu em seu corpo uma chave para acessar os segredos guardados pelos deuses. E percebeu que tem o privilégio de estar em sintonia com a cadência divina, tal qual descrevem as palavras escritas no século 13 pelo poeta sufi Rûmi, criador do Sama:

"Oh! Dia, levata-te (...)
Os átomos dançam,
as almas, arrebatadas de êxtase dançam,
a abóbada celeste, a causa desse ser, dança.
Te direi ao ouvido até onde conduz esta dança:
todos os átomos que existem no ar e no deserto
estão enamorados como nós,
e cada um deles,
feliz ou desaventurado,
se encontra deslumbrado pelo sol da alma incondicional".

Fim .:.



Referências Bibliográficas

Livros

A Dança, de Mirian Garcia Mendes, ed. Ática, 1987.
Mitos e Símbolos na Arte e Civilização na Índia, de Heinrich Zimmer, ed. Madras, 2000.
Educação Indígena e Alfabetização, de Bartolomeu Meliá, ed. Martins Fontes, 2002.
Sacred Dance - Encounter With Gods, de Maria Gabriele Wosien, ed. Thames and Hudson, 1968.

Sites

Dança Indiana - www.odissi.com.br
Dervixes - www.halvetijerrahi.org.br/jerrahi/




Stonehenge - Nossa Antiga Casa...



Assistam a essa maravilhosa produção onde Stonehenge, o lar da adoração Celta e Druídica, teve seu maior e melhor momento de expressão histórica

Um novo trabalho arqueológico britânico, tenta mais uma vez, desvendar os mistérios dos Anéis de Pedra. Para que serviam? O que significavam?

Assistam e conectem-se a história de todos nós pela busca da fé e da adoração.

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Na Cadência dos Deuses - Parte 1


Considerada a mais antiga forma de arte, a dança nasceu como um meio do homem conectar-se ao Divino.

Como falar sobre aquilo que me causa a impressão de estar diante de truques de mágica ou de segredos guardados pelos deuses?

Dessa pergunta ecoa a idéia de que o ato de dançar estaria ligado a um plano invisível, impossível de ser descrito em palavras. Mais do que mera expressão corporal, o movimento suave, preciso, seria um meio de união com o plano espiritual.

A história da humaniade confirma essa relação: desde os primórdos o homem viu na dança uma forma de conectar-se ao Sagrado. E não é à toa. Por dispensar materiais e ferramentas externas, dependendo apenas do corpo para se realizar, ela é considerada a mais antiga forma de expressão: sabe-se que o homem já dançava na era paleolítica superior (de 300 mil a 10 mil anos a.C.).

Datam desse período os primeiros registros conhecidos de atividades dançantes. Segundo estudiosos, como o historiador francês Paul Bourcier, as danças naquela época eram miméticas, ou seja, imitavam os movimentos dos animais, e eram feitas em grupos dispostos em roda.

Na realidade, não há indício de que os povos nômades que então habitavam o planeta cultuassem alguma divindade, mas a cosmologia das sociedades tradicionais que sobreviveram até hoje mostra que as danças miméticas são usadas por elas como forma de incorporar o espírito dos animais, assimilando suas qualidades antes de caçá-los.

Esse tipo de dança, hipnótica e repetitiva, sempre procurou levar o dançarino a entrar num estado de êxtase, em que pudesse comungar com a essência do elemento que desejava incorporar.



Magia em Movimento

Durante o período neolítico (8.000 a 2.000 a.C.) o ser humno já adorava espíritos e seguia rituais para enterrar seus mortos. A dança tinha então um papel fundamental nas cerimônias e cultos, sendo usada para louvar ou aplacar divindades, ou ainda para excitar o êxtase espiritual dos bailarinos.

No livro Mitos e Símbolo na Arte e Civilização da Índia, o mitólogo alemão Heinrich Zimmer afirma: "A dança é uma forma ancestral de magia. O dançarino ganha novas e maores dimensões, torna-se um ser dotado de poderes sobrenaturais e sua personalidade se transforma. A dança leva ao transe, ao êxtase, à vivência do Divino, à compreensão da secreta natureza individual e, por fim, à fusão com a essência divina".

De acordo com pinturas rupestres descobertas em escavações arqueológicas, na "infância" da dança sua execução ficava a cargo de homens ornados com máscaras e amuletos, principalmente magos e sacerdotes, e os rituais eram acompanhados de instrumentos musicais.

Não havia então uma distinção clara entre música, dança e louvação, sendo as três intimamente integradas num mesmo corpo. Ainda hoje essa fusão caracteriza as cerimônas religiosas de diversas comunidades indígenas.

Entre os índios guaranis, por exemplo, não existem cantos e danças propriamente profanos. Canto, dança e oração chegam a ser sinônimos: a oração é um canto dançado, assim como a dança é uma oração cantada.

O mesmo se dá em relação a movimentos espiritualistas contemporâneos,como os praticantes das danças sagradas, e aos cultos afro-brasilieiros, como a Umbanda, em que o movimento corporal é um veículo de ligação com as divindades.


Bailado Ancestral

A dança está presente como elementos sagrado em várias crenças e movimentos espiritualistas. Confira alguns exemplos abaixo:

Vamos todos Cirandar?

Quando se vê um grupo de danças circulares sagradas em movimento é impossível não recordar as brincadeiras de roda que povoam nossa infância. Para os praticantes, porém, mais do que deliciosos momentos de descontração, elas proporcionam um contato com a essência divina de cada um.

Foi assim como o bailarino alemão Bernhard Wosien, responsável pelo resgate de danças tradicionais européias na década de 50 que culminou com a popularização do que hoje chamamos de danças circulares sagradas. No livro Dança: Um caminho para a Totalidade, Wosien afirma: "Nas formas mais antigas das danças populares encontrei o caminho para a dança como uma meditação, um caminhar para o silêncio. Esta meditação tornou-se para mim e meus alunos uma oração sem palavras".

O elemento comun a todas as danças sagradas é o formato em círculo, considerado um poderoso símbolo de unidade e totalidade entre seus participantes. Ao trabalharmos em círculo, de mãos dadas, estimulamos o espírito comunitário, pois não existe heirarquia.

Gira Mundo Gira

As pancadas no atabaque marcam o ritmo no terreiro e, aos poucos, os presentes entram em transe mediúnico ao mover o corpo segundo o compasso da percussão.

De acordo com o pai-de-santo Vinícius d'Omulu, do Templo Caboclo Pena Branca das Almas, na Grande São Paulo, na Umbanda a dança é uma louvação às entidades. "Ela estimula os filhos da casa a consagrarem o Divino dentro do epaço sagrado". 

Além, disso, levaria os médiuns à sintonia para incorporar as entidades, como os caboclos e pretos-velhos. 

Em outros credos afro-brasileiros, como o Candomblé e o Tambor-de-Mina, crê-se que as próprias divindades se manifestariam pelas danças rituais.


Por meio das danças e o tambor, os orixás são invocados a se fazer presentes. Para a religião afro, o corpo é muito importante. Durante os rituais, emprestam-se as forças que tem desde que o mundo é mundo. 


Continua...


A Grande Árvore Genealógica


Um trabalho maravilhoso da National Geografic, dentre tantos, que lógico, essa maravilhosa sociedade, exitente desde 1888, tem sido inspiração para alunos e licenciados em História e Geografia a partir de seus premiadíssimos trabalhos de pesquisa de campo. 

Como não podia deixar de ser, aqui também vemos o cuidadoso trabalho artístico, tão presente em cada produção desta Sociedade que sempre nos presenteou com matérias maravilhosas em suas revistas, agora também em seu canal pago. 

Acompanhem a saga da própria humanidade em sua jornada em colonizar o planeta Terra.











Quer Saber Mais?
 
National Geografic - Site Oficial  

National Geografic - Site Oficial no Brasil 




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Desmistificando...

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... Na magia o “iniciado” gira em torno de si mesmo, do seu Daimon (divindade espiritual). Deuses e demônios existem dentro de nós! Os demônios somos nós mesmos.

Numa acepção menor, eles são as forças de inércia dentro da nossa personalidade. Isso está implícito no pentagrama que usamos no peito! Desde Santa Hildegarda de Bingen no século XII até, mais tarde, Agrippa e Paracelso, no século XV, ele tornou-se o símbolo do Microcosmo em que o ser humano era percebido como a súmula do Universo, contendo em si Deuses e Demônios.

Isso queria dizer que tudo que existe, vive dentro de nós e, é aí, que  devemos procurá-los e encontrá-los.

Na Instrução da Deusa, ela adverte: “Se o que procuras não o encontras dentro de ti mesmo, então nunca o encontrarás fora de ti próprio.”

A Wicca é uma Religião de Mistérios Neopagã cujo processo de transformação espiritual se baseia nos padrões cíclicos da Natureza e na liberdade da sua consciência, apoiada sobre um conjunto de ferramentas meditativas, rituais e existenciais, como normas principais da sua ação (determinada pela sua vontade de autodesenvolvimento e autotransfiguração).


No seu percurso de transformação mágico-religioso, o wiccan une o físico e o espiritual, ressantificando o corpo e a natureza.


(Coven A Casa da Floresta) 


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A Verdade e a Mentira




Todos nós que amamos os desportes estamos contristados com o que Lance Armstrong nos apresentou em sua entrevista com Oprah Winfrey.

Diante de algumas de suas respostas eu me perguntei o que será que é a Verdade para algumas pessoas?

Eu não vou pensar ou concluir que a ação de Lance ao ir a uma jornalista do quilate de Oprah  exime-o de alguma coisa. Ele o fez por sua reputação já estar perdida há muito tempo. Apesar da sinceridade das respostas, das explicações, das confissões, eu sei, que se houvesse algum jeito escuso, sujo ou mentiroso, ele ainda arriscaria mais alguma coisa, como ele próprio assumiu.

Possuidor de um ego enorme, aquele homem, naquele momento, deixou escorrer suas últimas doses de veneno, que envenenou ele próprio por anos. Não foram as drogas, mas um ego voltado apenas para si mesmo, da forma mais egoísta possível. 

A entrevista não o tornou melhor. A entrevista apenas nos fez ver o que uma pessoa é capaz de fazer para alcançar um objetivo. E, certas pessoas, fazem o impossível para manterem-se num determinado pódium mental, mesmo que tudo isso, para o próprio indivíduo, seja a mais total e completa farsa.

Lance Armstrong não pensou no atleta pobre, que vê em seu ídolo o ânimo para desejar se profissionalizar naquele esporte e arriscar toda a sua vida. Ele não pensou nos muitos profissionais que dependem que o Esporte dê certo, para manterem seus empregos.

Lance não pensou nos impactos que isso levaria para outros atletas, porque se a vida de um atleta é difícil, agora ela será infinitamente mais difícil e árdua.

Ao invés de optar em lutar por direitos e treinos mais humanizados para os atletas profissionais, ele apenas constatou o quanto um atleta deve arriscar sua vida, seu caráter, no dia-a-dia, para obter suas quimeras. 

Eu nunca fui uma pessoa de mentir, e isso já me colocou em situações bem engraçadas, outras chatas e outras ainda constrangedoras. Às vezes dizia comigo mesma: "Por que eu não disse aquilo?" ou "Por que eu tive que afirmar aquilo outro?". 

Quem me conhece, sabe que a mentira não é um meio para meus objetivos. Mas sei que, para você viver bem numa sociedade que privilegia o falso, o superficial, a desonestidade, ser assim, é ser careta, é ser caxias, é ser metida a perfeita. 

Quando estive na frente da TV nesta semana, assistindo pelo Discovery Channel, as palavras de Lance, me vi perdida no passado. Numa semana de provas, lá atrás há mais de 10 anos, quando todos precisavam entregar trabalhos e ter uma boa nota com um professor de programação em Java. 

Nossa, me lembro que de qualquer programa já feito pelos humanos, o Java, naquela época, era a coisa mais bizarra, mais complicada e mais sem noção já criada... Mas tínhamos que conseguir entender algo que nem o professor teve condições de nos ensinar em 3 anos de aulas com mais de 6 horas/dia. 

O cansaço mental e a frustração de perder 3 anos, fizeram com que muitos colegas colassem despudoradamente nas provas finais. Os professores sabiam que estavam colando, mas fazer o quê, até parecia que eles concordavam no fundo, como se aquela atitude fosse a única coisa decente a ser feita. 

No dia da entrega das notas finais, alívio e comemorações. Sim! Comemorações! Foi tão engraçado ver aquelas pessoas que encolhidas no fundo da sala, de forma quase criminosa, cochichavam, abriam seus papeizinhos e colavam há dias atrás.... Mas naquele dia, braços erguidos num sinal de vitória... Mas que vitória? O que ganharam? Um diploma? Mas como esse diploma poderá ser útil, se não aprenderam nada?

Como fazer um programa de Banco de Dados para um empresa? Como trabalhar com a responsabilidade de arquivos, quando você não conseguiu assumir para si mesmo que não sabia fazer aquilo que lhe renderá seu salário?

Como receber um pagamento por não ter feito nada?

Bem, eu não colei, minhas notas naquele último semestre foram horríveis... E o professor me deu uma segunda chance... Chateada comecei a estudar para não perder o curso... Mas, hoje em dia, o Java é um dos programas mais tranquilos e sem bichos de 7 cabeças que eu conheço.

Foi engraçado que me encontrando com uma professora de uma faculdade daqui de minha cidade, conversávamos sobre programação, e ela, com mestrado em Programação, não sabia fazer uma rotina simples do flash do Java, e se viu desconcertada por uma Técnica em Informática saber mais que ela...

E assim, comecei a recapitular cada situação de minha vida, assistindo ao programa, onde a mentira e a verdade estavam de mãos dadas... Ah! Sim.... Apesar de saber sem nenhuma dúvida da culpabilidade de Lance, eu sei o que é desejar demais uma coisa e somente a falsidade ou a mentira ser o único recurso disponível para obtê-lo... Como vencer a tentação?

Será que eu sou melhor que Lance? Será que também não joguei tudo algumas vezes para obter algum tipo de aprovação, quando na verdade eu era uma derrotada total?

Bem... Houve tantas situações em minha vida... Perdi meu pai por causa da bebida... Perdi minha mãe por causa de uma doença que até hoje não sabemos o que era... Me casei e divorciei e, até hoje, não sei exatamente onde errei ou acertei naquela relação... Para mim é difícil saber onde a verdade está.... O que seria ela? 

Fui transportada para outro momento e lembrei do dia em que fui conhecer a família de meu ex-marido: Como impressioná-la? O que dizer? Fiquei tão perdida em meus pensamentos que nem vi a hora que paramos na frente da casa dos pais dele. Desci do carro, ensaiando mentalmente, como seria meus primeiros cumprimentos... "Será que falo que a casa é bonita? Ah! Não, isso parecerá interesse...!";"Será que digo que eles são simpáticos...? Mas nem os conheço...?!Ah! Vai soar falso...!"

Na presença de minha sogra e sogro, decidi nos poucos segundos que faltavam, ser eu mesma, respondi a tudo o que me perguntaram. Não sorri mais do que o necessário. Não fiz comentários extras. Decidi falar a verdade a cada questionamento, sem querer agradar ninguém.

E acredito que por causa daquele mísero momento, onde a Verdade e a Mentira se mesclaram em um convite tentador, e tendo dito Não, conheci em meu sogro, o pai mais maravilhoso que alguém poderia ter e, apesar de meu divórcio, minha sogra ainda hoje visita minha casa e somos amigas. E é engraçado ouvi-la dizer: "Se acontecer alguma coisa, eu vou morar com Aranel!" - vocês sabem que meu nome não é Aranel, mas tudo bem... Olha a necessidade da Verdade aqui de novo...!

Eu tenho sempre optado em ser eu mesma, e enfrentar cada obstáculo e desafio que tenho. Nunca esqueço o que minha mãe falava: "Filha, o que você tem na mão?" - ela sempre fazia isso... (risos!) e ela queria que eu falasse exatamente o que eu tivesse na mão naquele momento, então dizia: "Tenho essa vassoura!" - e ela retrucava: "Então faça dessa vassoura sua única arma, seja perfeita, não cometa erros, faça da vassoura seu martelo, seu prego e construa o que precisar construir com essa vassoura, pois é tudo o que você tem!"

E tem sido assim, desde então...

Minhas construções não são grandiosas. Não há arranha-céus. É provável que nunca e jamais construa um, pelo menos não nessa vida... Mas meus casebres, minhas cavernas, estão sendo escavadas com minhas próprias mãos, com minha história de vida, com minha verdade, que não é única, que não é linda, mas é minha verdade, e ela jamais ferirá ninguém... Eu não vou deixar isso acontecer!

Terminei essa semana assistindo essa entrevista, triste, decepcionada e tão assustada quanto a própria Oprah diante do esportista que estava, mesmo naquelas condições, lutando, "pedalando", para obter algum lucro daquilo. Ele ainda jogava...!

Ele venceu tantas vezes, mas nunca pensou nas pessoas que perderam. Nunca se permitiu o segundo lugar. Mesmo suas vitórias sendo falsas e vazias a sensação do primeiro lugar do pódium era inebriante para ele. O que ele nunca aprendeu, é que quando nossa história é feita e forjada a partir da desgraça alheia, ela não dura, não permanece, não dá frutos. 

Suas vitórias se perderam... O tempo as recolheu... 

Ah! Sim... quando estudamos História vemos e comprovamos tanto isso... Coisa linda...!

Não tenha medo de ser verdadeiro amigo. Sim, você que estiver lendo isso, não tenha medo da verdade. Mesmo que essa verdade lhe mostre o quão mentiroso você é. Acredite, se a Verdade não iluminar seu caminho, suas escolhas, se ela não fizer surgir do nada algo, muito menos a Mentira fará. 

Nada é tão ensurdecedor quanto a Verdade. Nada é tão medonho quanto a Verdade. 

E mesmo vivenciando algumas situações ambíguas, eu sei, que a Verdade é a única luz de que precisamos. 

A Verdade é o único caminho para alcançarmos a Vitória... 

No final da volta derradeira do circuito da vida, somente a Verdade  nos dará as forças aos nossos membros e músculos, para suportar as dores e o cansaço, que cada escolha nos impõe. 

A todo que escolher um atalho, perderá!

O começo e o fim podem ser iguais...
Depende de quem vai achar uma resposta!
A inveja que mata
não me afeta mais,
Pois o que conquistei
tem o direito de ser meu!

Entre o Bem e o Mal, e a escolha certa,
Pouco tempo pode ser demais
prá quem sabe o que quer!
Prá quem respeita a vida e a si mesmo!
 

O tempo muda sempre
cada vez mais,
E dentro de você
Existe o Bem e o Mal
E a escolha certa...!

A vida é curta demais prá sempre reclamar...
E não correr atrás dos sonhos que almeja!

O que você me diz,
Não me afeta mais...
Pois o que conquistei,
Tem o direito de ser meu!
 

Entre o bem e o mal,
E a escolha certa,
Pouco tempo pode ser demais
Prá quem sabe o que quer,
Prá quem respeita a vida e a si mesmo!
 

O tempo muda sempre,
Cada vez mais,
E dentro de você
Existe o Bem e o Mal
E a escolha certa...!



Quer Saber Mais?

Entrevista com Lance Armstrong mediada por Oprah Winfrey.







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Índio?! Quem é Primitivo? - Parte 2



A Noção de Sucesso

Rosa passou dez anos acompanhando o dia-a-da de várias tribos brasileiras, e diz que acabou descobrindo que sucesso é mais que um trabalho bem feito, reconhecido e recompensado.

A vida, diz ela, é mais simples do que imaginava. "Meu trabalho era tudo para mim, mas entendi com eles que não é preciso muito para ser feliz. Apenas ter amigos, comida, amor e paz de espírito".

Não há noções ocidentais e capitalistas como triunfo, competição e sucesso. É verdade que essas metas motivaram grandes avanços na nossa hisória. Mas não dá para negar seus efeitos colaterais, como a ansiedade, o estresse e uma lista infinita de doenças relacionadas.

Cada grupo indígena, obviamente, possui seus próprios costumes e tradições. Mas de modo geral vivem em comunidades onde prevalece a igualdade.

Exceto por algumas lideranças políticas, como caciques e pajés, ninguém é mais importante. "O nosso mundo, não tem essa de um ser mais rico. Para quê? Ter riqueza e ficar sozinho? Que besteira." - diz Siridiwê, xavante e diretor da ONG Instituto das Tradições Indígenas, de São Paulo.

Também não há a ideia de trabalho como conhecemos. trabalha-se claro, mas pela sobrevivência, isto é, por comida e abrigo. Em Wederã, homens e mulheres desempenham funções distintas, mas de igual mérito. Não se acumulam ou se guardam objetos e alimentos para o futuro.

Quando sentem fome, já que não têm o hábito de plantar, partem em busca de caça no cerrado. Se estão satisfeitos, deitam-se à tarde nas portas das casas feitas de folhas de piaçaba e passam horas a conversar e rir das brincadeira das crianças.

Para mim, foi difícil entender como um povo sem posses pode ser tão tranquilo. Preguiçosos, vagabundos? Que nada. "Enquanto sentimos um constante e opressor medo do tempo e do futuro, os índios encaram a vida com menos angústia, com desprendimentos e desapego. Isso é algo valioso para se aprender", afirma nosso amigo, professor Eduardo.


O Tempo de Cada Um

Índios não possuem calendário. Não de forma como conhecemos, da folhinha que nos diz se hoje e quinta-feira ou domingo. Nem relógio. Esse tempinho nosso de cada dia não existe para eles. Marcam o tempo de forma muito mais ampla, de acordo com os ciclos da natureza, do Sol ou da Lua.

Para os xavantes, que habitam uma região com longos períodos de seca e de chuvas, a chegada de gafanhotos e passarinhos aponta quando as estações estão mudando.

Siridiwê, que mora em São Paulo há alguns anos, confessa que não entende como nós, seres urbanos, não conseguimos enxegar os dedos da natureza em nosso cotidiano. "Se você tem uma reunião importante, mas chove e tudo fica alagado, você xinga o mundo. Caramba, a natureza está dizendo que não dá, está chovendo. A única solução boa é se manter calmo".

Nem as grávidas xavantes sabem ao certo quando seus bebês irão nascer. "Vai nascer quando chegar a hora", responde, tranquila, uma índia com um enorme barrigão e uma warazu de relógio no pulso e ansiedade na alma.

Como então sabem o momento em que um jovem tem de ser iniciado nos rituais de passagem para a vida adulta? "Não importa a idade. Ele deve estar maduro, indepentemente de ter 13 ou 18 anos", afirma Paulo.

Por não terem escrita e guardarem as tradições apenas oralmente, os índios dedicam muito respeito aos mais velhos.

No warã dos xavantes, quem fala primeiro são os anciãos, que desempenham o papel de conselheiros da aldeia, recebem cuidados e atenção especiais, assim como as crianças. Mas isso não significa superproteção.

As crianças circulam em grupos só dela por toda a aldeia. Quando brigam, os pais geralmente deixam que resolvam sozinhos seus conflitos, para aprenderem a amadurecer por si mesmas. Mas ensinam e cuidam dos rebentos de perto.

Infelizmente, com nossa vida agitada, somos obrigados a nos afastar de nossos filhos. Quando têm problemas, levamos ao psicólogo para ele, sim, resolvê-los,  e perdemos uma das mais belas preciosidades da vida, que é ver as crias crescerem.

Sem riquezas, sem calendário, sem sobrenome, sem preocupação com o amanhã. Com esse estilo de vida meio zen, obviamente com problemas e falhas como qualquer outra organização social, o que significa felicidade para um índio? Ou melhor, o que é sucesso?

"Não existe para nós esse conceito de sucesso, de ter de conseguir coisas e sentir-se acima dos outros", afirma Paulo. "Sucesso é ter comida. Poder chegar à velhice com histórias para repassar aos mais novos. Viver em paz na aldeia. Isso basta para a gente ser feliz", disse-me ele.

Depois dessa frase dei por encerrada minha expedição à aldeia. Os xavantes dividiram comigo o que tinham de mais precioso.


Fim.:.


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Tristes Trópicos, de Claude Lévi-Strauss, ed. Companhia das Letras.

Visão do Paraíso, de Sérgio Buarque de Holanda, ed. Brasiliense.

Raízes do Povo Xavante - Tradição e Rituais, com fotos de Rosa Gauditano, Studio R



Aranel Ithil Dior