O ego é uma instância da personalidade definida pela psicologia como o nosso eu mais perceptível.
Essa conceituação, no entanto, foi revista e ampliada pelo médico austríaco Sigmund Freud, autor da teoria psicanalítica.
Para ele, o egoé uma instância psíquica relacionada ao princípio de realidade. O psiquismo humano seria composto ainda por duas outras instâncias: o id, que se orientaria pelo princípio do prazer, e o superego, que exerceria a função de juiz ou censor do ego.
Em outras palavras, o ego, que é a parte mais perceptível de cada um de nós, age condicionado por nossos desejos, conscientes ou inconscientes, e ao mesmo tempo é moldado por nossa autocensura e pelos nossos juízos de valor, representados pelo superego.
Quando as crianças nascem, elas são regidas pelo id. O ego se forma frente às demandas da realidade e é o coordenador da personalidade como um todo. Ele é o mediador entre o mundo interno e o externo.
As pessoas com ego mais frágil são, geralmente, mais impulsivas, uma vez que cedem aos impulsos do id. Quem tem o ego mais rígido, por sua vez, está mais submetido às leis do superego e costuma ser lógico e controlador.
O ideal é que o ego seja mais flexível e, assim, a pessoa possa deixar as emoções fluírem sem sucumbir.
Ou seja, a verdadeira história dos afrescos da Capela Sistina joga por terra a visão romântica em torno da obra do gênio renascentista: ele aceitou um trabalho que não queria; não teve a liberdade artística para pintar o que quisesse, tendo que driblar interferências políticas a todo momento; e, por fim, enfrentou diversos contratempos práticos na execução da obra, que durou exaustivos quatro anos.
Mesmo assim, qual foi o resultado?
Sob os pincéis de Michelangelo, o que poderia ter sido um fiasco de porporções monumentais se transformou em um dos maiores feitos artísticos da humanidade, uma obra-prima para se admirar rezando.
Início Catastrófico
A cena escolhida por Michelangelo para iniciar seu trabalho no teto da Capela Sistina, em meados de 1508, foi justamente a catástrofe que quase destruiu a Terra - o Dilúvio. Mas não tardou para que a escolha do tema revelasse uma irônica coincidência com o modo como transcorreu o começo da obra.
Foram tropeços atrás de tropeços. A própria composição, cheia de figuras humanas e detalhista ao extremo - é possível ver bancos, trouxas de roupas e até talheres - foi a primeira pedra do caminho.
Ainda durante a primeira etapa do trabalho, novo contratempo: brigas com alguns dos assistentes, que abandonaram a tarefa. Em seguida, devido a problemas até hoje não elucidados pelos hitoriadores, Michelangelo precisou refazer metade do afresco.
Para piorar, no início de 1509 o clima chuvoso do inverno de Roma trouxe mais dor de cabeça a Michelangelo. Usando componentes inadequados na preparação do afresco, ele viu a superfície do teto ser tomada por fungos e sais cristalizados, que escureceram as imagens.
Desmotivado, o artista chegou a pedir ao papa para abandonar a empreitada - pedido prontamente negado.
Como se não bastassem os reveses de ordem prática, Michelangelo enfrentou ainda a concorrência com outros famosos pintores renascentista. Na mesma época em que refazia a obra malfadada, a poucos metros dali Rafael pintava - com sucesso - afrescos nos aposentos particulares do papa Júlio II.
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Ou seja, o desastre natural que ele tentava produzir provou-se uma tarefa também desastrosa, que ele levou dois meses para terminar.
Dedo do Mestre
Dois anos após o início do trabalho, Michelangelo teve outro aborrecimento. O acordo firmado com Júlio II previa que, finalizada a primeira metade do teto, ela deveria ter a aprovação do Santo Padre para que o trabalho prosseguisse.
Porém, no final de 1509, quando Michelangelo terminou a primeira porção, o papa estava envolvido em guerras para expulsar os franceses da Itália. Além disso, o pagamento do artista estava atrasado. Resultado: a primeira metade do teto foi revelada apenas em agosto de 1511.
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Assim,A Criação de Adão - com a famosa imagem da união dos dedos de Criador e criatura - demorou catorze meses para sair do papel e finalmente revelar um Deus jamais visto - de carne, osso e feições humanas.
Profetisas Pagãs
Ícone do mundo católico, a Capela Sistina abriga figuras vindas diretamente da cultura pagã: as sibilas, profetisas da mitologia greco-romana.
Na Idade Média, as sibilas representavam no mundo pagão o que os profetas representavam no mundo cristão. Em muitos círculos ainda não havia a contradição entre mundo pagão e mundo cristão.
Assim, construiu-se uma lenda de que as sibilas também anunciavam a vinda de Cristo. Uma dessas mulheres misteriosas é a que podemos ver na imagem abaixo: Délfica, famosa por ter dito a Édipo que ele mataria o pai e se casaria com a mãe.
Também aparece com destaque no teto a sibila Cumana, que recebe uma maldição do deus Apolo e, apesar de ser imortal, não pára nunca de envelhecer.
Pecadores Expulsos
Outra coincidência cercou a obra: enquanto Michelangelo pintava a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, o papa buscava banir da Itália outros "pecadores", os estrangeiros a quem chamava de "bárbaros".
Alheio às intrigas políticas, a representação do artista florentino para o pecado original foi peculiar: ao contrário do que narra a Bíblia, o afresco de Michelangelo retrata uma Eva com menor carga de culpa.
Na cena, ela recebe o fruto proibido da serpente, mas divide o pecado com Adão, que também tenta alcançar a árvore.
Uma coisa interessante nesta cena é que a árvore do Bem e do Mal é uma figueira, não uma macieira. Naquela época, o figo era uma alusão ao sexo feminino, por causa do formato da fruta.
Auto-Retrato
Após quatro anos de tabalho intenso, Michelangelo estava exausto e transferiu parte de sua irritação e melancolia para alguns dos afrescos.
Uma dessas imagens de desassossego é a do profeta Jeremias, tida como um auto-retrato do artista. A pose do profeta, afundado em um trono e segurando o queixo com uma das mãos, é tão forte que influenciou a criação da escultura O Pensador, do francês Auguste Rodin.
(Jeremias Capela Sistina - Michelangelo)
(O Pensador - Rodin)
Jeremias tem feições que poderiam lembrar Michelangelo, mas seria um Michelangelo muito velho, porque o artista tinha só 37 anos naquela época.
Apesar de todos os contratempos relatados, Michelangelo entra ainda para o rol dos Mestres Artistíticos das teorias das conspirações. Ao lado de Da Vinci, Michelangelo é tido também como um artista que deixou mensagens subliminares em seus afrescos.
Sabemos que elas tiveram um apelo de protesto, mas mesmo que isso irrite historiadores e marcháns, a verdade ainda será difícil de ser exposta, afinal, foram tantas situações estranhas nas quais Michelangelo se envolveu. No final de suas obras, e com amizades com membros de sociedades secretas, ele queimou todos os seus escritos e alguns projetos e rascunhose, por isso, jamais saberemos quais realmente foram as suas intenções seja com a tinta ou com o mármore...!
Fim.:.
Referências Bibligráficas
Livro
Michelangelo e o Teto do Papa, de Ross King, ed. Record, 2004. A Arte Secreta de Michelangelo: Uma Lição de Anatomia na Capela Sistina, de Gilbson Barreto e Marcelo G. Oliveira, ed. Arx, 2004.
Site
Dê um passeio virtual por toda a Capela Sistina acessando este link: Sistine Chapel
Vídeo
Documentário sobre a vida e obra de Michelangelopelo National Geografic Channel.