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A Arte de Varrer o Chão! - Parte 1

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(Saber valorizar o que há perto de você... Saber entender as diferenças de cada ser humano e agregar tudo isso à sua formação acadêmica e trabalho, é algo que a gente empreende todos os dias! - Acima, trabalho da aluna do 3º Semestre em História, Ana Paula Marques , de 2016.)

Em seu famoso livro Autobiografia de um Iogue, o mestre Yogananda decreve a primeira vez em que seu guru lhe concedeu a experiência do Samádhi, a consciência cósmica almejada pelos santos da Índia. 

Depois de surfar nos mares do deleite transcendental, Yogananda, emocionado, resolveu se ajoelhar aos pés de seu guru para agradecer a experiência, mas o mestre pediu que ele se levantasse imediatamente e varresse o chão. 

Escreve Yogananda:

"Fui buscar a vassoura. O mestre, eu sabia, estava me ensinando o segredo da vida equilibrada. A alma deve alarga-se sobre os abismos cosmogônicos, enquanto o corpo executa seus deveres diários."
Autobiografia de um Iogue, pag. 28

A mesma natureza de pensamentos pode ser encontrada aqui no Brasil no Centro Drukpa em Uberlândia-MG.

 (Retiro budista no Centro Drukpa em Uberlâdia-MG, em 2015.)

Ali, o monge Daiju Bitti e seus discípulos usam o trabalho como parte da disciplina espiritual.

Trabalhar cotidianamente é colocar a meditação em ação.

A iluminação que todo mundo busca só vai se revelar no cotidiano, e o trabalho faz parte disso. Manter o mosteiro limpo, cumprir os horários de meditação e sorver humilde e silenciosamente os alimentos faz parte de qualquer disciplina espiritual. Trabalhar é uma das principais ações da vida espiritual. 

(A rotina de um professor que ama o que faz, também possui suas tarefas chatas, mas essenciais para que a vida de muita gente siga seu próprio processo de crescimento. Acima, alunos em fase de estágio, formandos em fase de monografias e mestrandos em busca de dados para pesquisas do curso de História. Acima, setor acadêmico de Monitoria em História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus Vitória da Conquista.)

Estes foram apenas dois momentos que selecionei em minha experiência pela busca de satisfação plena no trabalho. E, em todas elas, sempre há algo em comum, um caminho que é dedicação em nossas tarefas, não importando quão complexas ou tediosas elas possam ser, podemos empreender, silenciosamente, uma transformação interior ao cumpri-las!


O trabalho é nossa vida. 

Está equivocada a pessoa que só enxerga prazer depois que acaba o expediente. 

(Manter a mente e emoções equilibradas quando estamos em contato direto com tantas pessoas de níveis e histórias diferentes, é um teste e tanto para qualquer buscador da espiritualidade. Todo ano os alunos do 1º e 2º semestre do curso de História precisam visitar alguns setores relacionados ao curso para habituarem-se e compor suas pesquisas e estudos, algo proposto por nós e mantido desde 2011. Acima, os novos alunos do curso de História do ano de 2017, visitando o Museu Regional Casa Henriqueta Prates-UESB.)

Então, olhando bem, é tudo muito simples. Mas há uma diferença entre o tipo de dedicação de um iogue ou de um monge e o da maioria dos mortais. 

Sem dúvida, mais e mais buscamos nos espelhar nesses modelos, não vamos tão mal, mas quantos de nós conseguem realmente meditar enquanto trabalha? Como "alargar a alma sobre os abismos cosmogônicos" quando quem nos dá ordens não está exatamente interessado em nos ensinar o segredo da vida equilibrada?

 (Trabalhar em iluminação é encontrar respostas otimistas para si mesmo e para os outros, pois nossos companheiros de profissão necessitam ser guiados por aqueles que já conhecem os caminhos que contêm um bom número de obstáculos. Acima, reunião mensal dos vários projetos do curso de História que visitam a Zona Rural de Vitória da Conquista e Região, uma parceria de prefeituras da região e UESB-Vitória da Conquista, de 2016.)

Como nos desprender da ideia que nossas tarefas não são tão "complexas" do que varrer o chão?

Porque o mundo, hoje, vive um momento inédito em relação ao trabalho. Não contávamos com tantas brechas de mobilidade social, não éramos tão senhores do nosso destino.

(A primeira escola que abrigou o ensino fundamental em Vitória da Conquista foi a Escola Normal criada em 1850 pelo Padre Palmeira. Como o ensino fundamental, para época, só podia ser exercido por mulheres, por muito tempo o prédio formou professorinhas que trabalharam na cidade de Vitória da Conquista e regiões adjacentes. Acima, turma de normalistas de 1952.)

(Amada e desprezada... Amparada e rejeitada... A história da Escola Normal, e, em 1954 sua transformação para o Instituto Euclides Dantas, sempre representou a preocupação da Cidade de Vitória da Conquista em se destacar no ensino e cultura, já que isso era uma competição amarga entre a cidade de Caetité que sempre levou os louros culturais da capital de Salvador-BA.)

(Quando o IEED era ainda a Escola Normal, a preparação das normalistas para serem professoras, era algo inédito em toda a região. Essas meninas foram as mentes mais modernas de seu tempo, que com esforço e dedicação, trouxeram a amplitude de nossa cidade. Elas participaram de eventos políticos e na formação intelectual de crianças em 4 décadas de trabalho ininterrupto, influenciando toda nossa região e circunvizinhança. Acima, turma de 1961.)

(Após várias crises políticas e possíveis fechamentos, a Escola Normal vence, com a permanência de professores vindos de outras capitais do Brasil, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador. Acima, uma foto preciosa e rara onde  primeira turma de formandos da Escola Normal estão reunidos, de 1914.)

Para o bem ou para mal, tínhamos quem nos dissesse o que fazer, e em geral, podíamos fazê-lo mecanicamente - quem sabe até tirando proveito disso, criando alguma liberdade para a alma...

Agora, mais que em qualquer outra época, temos liberdade de escolha, podendo definir os rumos de nossa vida profissional. 

Isso é lindo, mas cria problemas novos, para os quais talvez não estivéssemos preparados...

[As fotos em preto e branco usadas nesta postagem fazem parte de um acervo particular da Loja Maçônica Cavaleiros do Oriente, cedidas gentilmente para esta matéria.]



Continua... 

Aranel Ithil Dior