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Mesa para Um! - Parte 2

(O mais chato em estar numa cidade grande é o fim de semana... Em 2009, a Internet também era um recurso caro fora do Brasil, postar fotos era demorado e difícil... Acima, a rua onde morei por 4 meses em Notting Hill Gate, um tipo de cruzamento das linhas férreas da cidade de Londres.)

Então... Eu morei um período na Inglaterra com meu irmão, foi um tempo legal, mas que o dinheiro era contadinho, então, Fernando e eu tínhamos que criar várias formas de: pagar aluguel, comprar a comida da semana e passear, e para isso a criatividade era fundamental. 

E, vendo os "aborígenes" ingleses, percebemos que apesar de serem citadinos, eles também passavam pelos mesmos dilemas que a gente: Como trabalhar, comer e se divertir? Começamos prestar atenção na forma como eles solucionavam esse problema: Eles trocavam a compra mensal programada com aqueles montes de ingredientes, pelo hábito de passar diariamente, na volta do trabalho, e comprar sua comida preferida nas lojas ou supermercados prediletos.

(Os motoristas de ônibus ingleses são bem divertidos e simpáticos, deixam a gente ficar ao lado deles... Um dia raro na velha Londres: Sol brilhando e projetando sombras na cidade. O sol inglês nunca e jamais vai parecer com o sol que conhecemos aqui: Ele é pálido, frio e sem energia... Aqui, o astro rei é brilhoso, amarelo e projeta sempre uma luz acolhedora em qualquer lugar!)

Então, Fernando e eu íamos todo final de dia, da estação de Metrô Notting Hill Gate, para um All Bar One na Central Line, como todo bom londrino, solteiro ou não, e comprávamos um pãozinho, depois íamos à um açougue para comprar bifes, tomates, uma cebola e curry (hoje sou adepta desse blend de temperos indianos...!), e aproveitávamos para conversar, conhecer e se conectar com os nativos: Se fosse sexta-feira, batia aquela vontade de comer peixe (em mim, né, não em Fernando, porque você já sabe que ele odeia peixe: ><'), passávamos também numa queijaria (tão legal isso: na Inglaterra e França, existem lojas que só vendem queijos, tão importante que é esse item por lá!), pegávamos só algumas fatias (que se fosse aqui no Brasil, jamais poderíamos comprar, porque aqui, não vendem a varejo como lá...) e se o dinheiro da semana fosse bom: um vinhozinho...

(As linhas férreas da Inglaterra é algo memorável e digno de visitação... Os lingotes e toda a ferragem, em alguns setores, são tão antigos quanto a própria ideia dos trens criados em 1804. Acima, trilhos de Notting Hill.)

Dessa maneira, o que íamos comer a cada dia dependeria do que mais atraia o estômago.. Tá, eu sei que se tratando de Brasil, e mais precisamente, Vitória da Conquista, fazer isso é quase impossível...

Até era... Mas, hoje, pequenos supermercados de bairro, como esse pertinho de casa, vendem pequenos e poucos itens de alimentação sem que os balconistas ou caixas façam aquela cara de: "Caramba, você só vai levar isso?! Não paga nem a sacola de plástico!"

(São em lugares assim que os ingleses terminam o seu dia de trabalho, e acabam fazendo uma boa refeição: um All Bar One, que é um tipo de vielas bem estreitas, da Era Medieval, onde você encontra de tudo: desde o melhor pub da região até lagostas, tartarugas... Enfim... Ah! O Bar do nome acima nada tem a ver com bar/restaurante como conhecemos, é um apelido para a palavra Barn, trad. celeiro.)

Mas seja como for, permitir-se o hábito de se surpreender a cada dia em cada refeição, pode tornar a vida - e o paladar - bem mais interessante...

Outro problema a ser resolvido: o tempo. 

Nas casas de família de classe média no Brasil é mais comum haver uma empregada que cozinhe diariamente, ou ao menos em vários dias da semana. 

Quem mora sozinho, normalmente, não precisa ter, ou não pode, sustentar uma diarista para cuidar da cozinha. E, se trabalhar fora, nem sempre tem tempo de gastar muitas horas preparando uma refeição. 

(Que em Stonehenge existe doido de todo o tipo, todo mundo sabe... Mas isso?!? - Ok... Registrado para a posteridade e postado eternamente na Internet... Acima, o local mais visitado da cidade de Somerset que sofre com a enxurrada de gente de vários lugares querendo se reconectar com o divino e com as energias que as pedras megalíticas emanam.)

Mas será necessário ficar enfurnado na cozinha durante tanto tempo? 

Tudo bem, quando é um almoço para os amigos, a ser degustado durante horas num fim de semana, pode requerer todo esse tempo de preparo... Mas, para quem vive e come só, existem certos pratos práticos e rápidos, contudo, bem saborosos. 

Comprar um belo bife ou um filé de peixe, umas folhas de salada ou um ingrediente para cobrir uma massa ou reforçar um risoto italiano (algum legume, ou camarões, ou linguiça, só para dar alguns exemplo...), são a garantia de uma solução rápida para um jantar solitário (ou quem sabe na companhia de uma visita, mesmo que convidada de última hora!).

(O mais gostoso na Inglaterra é que lá tudo é tão limpo e arrumado em seus devidos lugares, que parece que você está num cenário de filme... Isso me impressionou tanto que eu já disse prá Isabelle: Quando sua mãe morrer, me creme e leve uma porçãozinha das cinzas para Bailman... - Acima, bairro periférico e um dos mais antigos de Londres, Bailman, no setor Leste da cidade. Tá vendo ao lado? É um dos braços do rio Tâmisa.)

A salada só requer um molho, que pode ser preparado na própria mesa no momento de se servir. O bife ou peixe pode ser feito numa grelha de ferro ou de revestimento antiaderente (que apesar de ser, atualmente, não preconizado no preparo de uma refeição, é item indispensável para os solteiros de plantão que precisam fazer uma refeição rápida). E tudo isso, não toma mais do que dez minutos...

(Um bairro só é um bairro, na Inglaterra, se o pub for o mais lindo do setor e reconhecido pelos outros bairros. Cada bairro tem um pub que é central e o mais importante. Não fique achando que eles são abertos e simpáticos para com os turistas e visitantes... Não... Lá, boteco de esquina é coisa séria: Eles são como sociedades secretas, um tipo de torcida de futebol organizada e fechada, só entra quem tem "carteirinha". Lógico que você não precisa de carteirinha prá entrar num pub na Inglaterra, mas se você acha que vai encontrar uma turma e sair cantando igual você vê nos filmes, esquece! Acima, o pub mais respeitado de Notting Hill, o Red Lion, antigo como a coroa britânica.)

Uma massa, fica pronta em menos de 20 minutos, imaginando um molho simples (tomates italianos em lata, refogados com cebolas, alho, uma colher de sopa de manteiga e uma gotinha de azeite... e, voilá! Ah... Não esquece de 2 colheres de chá de açúcar!). 

Um risoto pode demorar um pouco mais, mas dependendo da habilidade do cozinheiro, não exige mais que 30 minutos. 

(Ah... Um dia vou escrever o Livro de Ouro do Macarrão... Éh!... Porque não nasceu ainda nada mais criativo, mais louco e mais inesperado do que minhas receitas de macarrão... Tenho, dentre minhas variadas invenções malucas, 5 receitas que só Isabelle e eu sabemos os ingredientes secretos... O sucesso é garantido! - Acima, o macarrão preferido de Isabelle desde que ela conseguiu comer sem engasgar: Massa ao Taro, é um tipo de macarrão feito com molho de tomate e caldo de carne de panela, é uma delícia, e ajudou muitos italianos a sobreviverem da fome após a 1ª Guerra Mundial, ficando famoso e fazendo parte da culinária icônica da Itália.)

O cozinheiro mais prendado, terá também colocado uma fruta (pêssego, figo, ou banana) no forno, com açúcar, manteiga e suco de laranja, para quem tenha uma sobremesa pronta já no final do jantar. Mas, se você for mais afoito, um bom sabor de sorvete (no meu caso, sabor de caipirinha e frutas tropicais), uma calda (no meu caso, de kiwi... hummm!), e pronto: sobremesa garantida!

Nossa... Me deu até fome; deixa ir lá na cozinha prá ver o que apronto prá hoje...!


Continua... 



Aranel Ithil Dior